A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) retomou o ciclo de aperto monetário com aumento da taxa Selic em 0,25 pontos percentuais (pp). A expectativa à frente é de seguidas elevações, pelo menos até o início do ano que vem.
“O mercado pediu para o Banco Central subir esses juros. (Gabriel) Galípolo (futuro presidente do BC) foi hawkish e entregou. Desde então a inflação implícita andou e o câmbio desvalorizou praticamente todo dia. Isso é um sinal horroroso”, diz João Landau, sócio-fundador da Vista Capital.
O gestor aponta que o modelo do Banco Central para os juros é diferente do utilizado pelo mercado e ele crê que a taxa Selic pode subir mais do que se prevê. “A gente ainda está tateando (o que aconteceu). Será que foi o externo? Será que foi o petróleo que andou? Tem a notícia de parafiscal? A gente está numa discussão de risco fiscal”, avalia.
Falta confiança
“Dívida é basicamente confiança. Se tem um pouco de confiança, resolve-se qualquer dúvida fiscal. Nenhum país estabiliza dívida”, afirma João Landau, que participou do episódio 259 do programa Stock Pickers, com apresentação de Lucas Collazo e Henrique Esteter. Segundo ele, o cenário é “muito preocupante”.
Ele não crê que o Banco Central “vai amarelar” em conduzir a política monetária necessária daqui para frente, com Galípolo assumindo a presidência em janeiro de 2025. Mas a situação não deve mudar no plano econômico.
“A dívida não vai cair. Agora sim precisava do Lula. Precisa de um adulto na sala, mas não tem. Se a política fiscal não entrar (no plano de governo), a dívida não vai parar de subir.”
Ele aponta preocupação com o custo alto da dívida, que já compromete o total dela. “Tem que fazer alguma coisa para reduzir esse custo”, destaca. “Não acho que nenhuma dívida se estabiliza no mundo, mas precisa mostrar confiança”, ressalta. “Se a dívida começa a crescer muito, com juro real a 8%, a dívida começa a cresce 0,40% mês”, avalia.
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Macro desequilibrado
“Por outro lado, o governo fica fazendo algo incremental, com parafiscal para todo lado. E o mais importante é que fez tudo isso (mais gastos) com a arrecadação crescendo 8% ao ano. Um ano isso vai cair. Em algum momento o PIB vai desacelerar, em algum momento vai se ter um ciclo de commodities negativo”, analisa.
Para o gestor, “o Brasil virou quase um elefante num slackline (fita de nylon por onde se tentar equilibrar sobre ela)”.
“E o macro não está equilibrado. E tem-se a certeza de que em dois anos não vai estar com esse equilíbrio, com juro real de 8%, dívida de 80% (do PIB) e fiscal fraco. É uma dificuldade para a gestão”, diz.
“A gente não gosta de ser extremo. E sendo um pouco mais parcimonioso com o Brasil, o PIB está crescendo 3%, a inflação está um pouco mais baixa. A gente está num desequilíbrio, mas a gente não foi totalmente para esse caminho”, pontua.