As forças armadas da Ucrânia usaram mísseis ATACMS fabricados nos EUA para atacar a Rússia pela primeira vez na terça-feira (19), de acordo com altos funcionários dos EUA e da Ucrânia.
Dois dias antes, a administração Biden havia autorizado a Ucrânia a usar os mísseis balísticos fornecidos pelos EUA para ataques dentro da Rússia pela primeira vez, em uma mudança significativa de política.
Os mísseis balísticos são conhecidos como Sistema de Mísseis Táticos do Exército, ou ATACMS (pronunciado “attack ‘ems”).
A Ucrânia tem pressionado os Estados Unidos há anos para receber a autorização, que chega nos últimos meses da administração Biden. O presidente eleito Donald Trump afirmou que buscará um término rápido da guerra na Ucrânia.
O que esses mísseis fazem?
Os ATACMS, fabricados pela Lockheed Martin, são mísseis balísticos de curto alcance que, dependendo do modelo, podem atingir alvos a 300 quilômetros de distância com uma ogiva contendo cerca de 170 quilogramas de explosivos. Mísseis balísticos voam muito mais alto na atmosfera do que foguetes de artilharia e muitas vezes mais longe, retornando ao solo em velocidades incrivelmente altas devido à gravidade.
Eles podem ser disparados dos lançadores móveis HIMARS que os Estados Unidos forneceram à Ucrânia, assim como de lançadores mais antigos M270 enviados da Grã-Bretanha e da Alemanha.
Os ATACMS são frequentemente chamados de “mísseis de longo alcance”, mas esse é um termo subjetivo. Eles podem alcançar mais longe na Rússia do que qualquer outro míssil ucraniano, mas não podem viajar tão longe quanto um míssil de cruzeiro ou um míssil balístico intercontinental.
O míssil ATACMS foi desenvolvido na década de 1980 para destruir alvos soviéticos de alto valor profundamente atrás das linhas inimigas. Foi construído como uma arma guiada rara em um momento em que os Estados Unidos confiavam principalmente em “bombas burras” e outras munições não guiadas.
Hoje, o Pentágono possui duas versões do ATACMS em seu inventário — uma arma de cluster [bombas de dispersão] e uma que carrega uma única carga explosiva.
O que aconteceu no ataque aéreo da Ucrânia?
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou em um comunicado que a Ucrânia usou seis ATACMS nesta terça-feira. Ele alegou que cinco dos mísseis foram abatidos e outro foi danificado, dizendo que fragmentos que caíram causaram um incêndio na instalação militar, mas não houve vítimas.
O exército ucraniano afirmou que atingiu um grande depósito de munições na região de Bryansk, na Rússia, antes do amanhecer, mas não especificou a arma utilizada. O oficial ucraniano que falou sob condição de anonimato confirmou o uso dos ATACMS.
O ataque ocorreu no mesmo dia em que o presidente Vladimir Putin reduziu o limiar da Rússia para o uso de armas nucleares, uma medida planejada há muito tempo cujo timing parecia ter como objetivo mostrar que o Kremlin poderia responder agressivamente a ataques ucranianos em território russo com mísseis de longo alcance dos EUA.
Por que os EUA esperaram?
A decisão sobre se armariam a Ucrânia com ATACMS tem sido um assunto sensível desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Desde o início da guerra, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky tem implorado por armas que possam atingir ainda mais fundo no território controlado pela Rússia e, eventualmente, na própria Rússia.
Os Estados Unidos forneceram ATACMS à Ucrânia no ano passado, mas a administração Biden até agora havia retido sua aprovação para seu uso além da fronteira na Rússia.
A Casa Branca tem se preocupado que, se a Ucrânia usasse os mísseis para atacar alvos profundamente dentro da Rússia, o presidente russo Vladimir Putin poderia responder com uma escalada.
“Estamos tentando evitar a Terceira Guerra Mundial”, disse o presidente Joe Biden.
Alguns oficiais do Pentágono também se opuseram a dar esses mísseis aos ucranianos devido a suprimentos limitados.
Zelensky afirma que esse tipo de arma é crucial para a capacidade de seu país de lançar uma contraofensiva mais ampla e insistiu que não tem planos de atacar cidades russas ou alvos civis.
No domingo, ele sugeriu em um discurso noturno que a restrição dos EUA havia sido levantada, sem confirmá-la, dizendo: “Essas coisas não são anunciadas. Os foguetes falarão por si mesmos.”
Como a Ucrânia os usará?
Além de ataques dentro da Rússia, oficiais dos EUA disseram que a Ucrânia pode usar os ATACMS para apoiar as tropas ucranianas contra as forças russas e norte-coreanas na região de Kursk, no oeste da Rússia.
O exército russo está se preparando para lançar um grande ataque com cerca de 50 mil soldados, incluindo tropas norte-coreanas, em posições ucranianas fortificadas em Kursk, com o objetivo de retomar todo o território russo que os ucranianos tomaram em agosto.
Os ucranianos poderiam usar os ATACMS para atingir concentrações de tropas russas e norte-coreanas, peças-chave de equipamento militar, nós logísticos, depósitos de munições e linhas de suprimento profundamente dentro da Rússia. Isso poderia ajudar os ucranianos a reduzir a eficácia da contraofensiva russo-norte-coreana.
No ano passado, Biden concordou em fornecer várias centenas de ATACMS para uso em território ucraniano controlado pela Rússia, incluindo a península da Crimeia ocupada pela Rússia. Portanto, não está claro quantos dos mísseis os ucranianos ainda têm em seu arsenal para usar na região de Kursk.
Os EUA os usaram em combate?
Sim. O exército dos EUA disparou cerca de 30 ATACMS em 1991 durante a Operação Tempestade no Deserto, de acordo com registros do governo. Eles foram usados para atacar lançadores de mísseis balísticos de médio alcance do Iraque e locais de mísseis superfície-ar.
Essas versões de munição de cluster de primeira geração podiam voar cerca de 100 milhas. Uma vez sobre seus alvos, liberavam 950 submunições.
O Exército também disparou mais de 400 dos mísseis táticos que carregam submunições na Operação Liberdade do Iraque, segundo registros do governo, notavelmente nas primeiras horas da invasão de 2003.
O Pentágono mais tarde restringiu o uso de munições de cluster porque frequentemente falhavam, espalhando o campo de batalha com restos perigosos que matavam e feriam soldados e civis após o fim do combate. O Exército reformou muitos dos primeiros ATACMS na década de 2000 e substituiu as submunições por uma única ogiva explosiva.