Proteger o valor do real é a missão estabelecida por lei ao Banco Central (BC). O conjunto de medidas que a autarquia adota para cumprir esse objetivo é o que chamamos de política monetária.
E a principal ferramenta adotada pelo BC no combate à inflação é a Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira.
O nome vem da sigla do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, uma estrutura do mercado financeiro administrada pela autarquia, pela qual são movimentados os títulos públicos federais.
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Os juros são o valor pelo qual o dinheiro é negociado. Quando fechamos empréstimos, financiamentos ou aplicações financeiras, é definido no contrato o quanto esse pagamento vai valorizar ao longo do tempo.
O banco é a parte responsável por intermediar o negócio entre o investidor que dispõe o dinheiro e quem precisa dele. O tomador recebe o valor solicitado, que será devolvido com a soma aos juros cobrados.
A instituição financeira fica com parte do pagamento como remuneração, e devolve a aplicação ao investidor com os juros combinados no futuro.
Como a Selic e a inflação se relacionam?
A inflação tende a subir em momentos nos quais a economia está aquecida, ou seja, quando o dinheiro está circulando, quando há demanda pela moeda.
Para conter a alta dos preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC então sobe a Selic.
O resultado: o custo para se realizar as operações financeiras encarece e a demanda por dinheiro se controla.
Quando o Banco Central sobe os juros, ele esfria principalmente a demanda por bens e serviços, de modo a reduzir a demanda da economia, enquanto mantém a mesma oferta de dinheiro.
Assim, os preços tanto de bens quanto os de serviços tendem a se acomodar e ficarem menos pressionados, explica Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do BC.
“Quando eu aperto o custo do dinheiro, eu acabo esfriando a demanda por produtos e serviços. Porque fica mais caro para investir, e assim reduzindo o investimento. Também fica mais caro para tomar empréstimos, uma vez que as prestações ficam mais caras com o juro mais alto, então eu faço menos ou não tomo empréstimo”, diz Figueiredo.
“Do outro lado, quem tem recursos tende a gastar menos e a poupar mais, porque o juro está pagando uma taxa maior”, conclui.
O economista e especialista em inflação da FGV/Ibre, André Braz, aponta que o BC dispõe de outros mecanismos à mão para lidar com a inflação.
Porém, uma vez que a Selic serve de referência para as transações realizadas no mercado e influencia diretamente nas perspectivas e expectativas dos investidores, o remédio amargo se faz mais efetivo.
“Tem várias formas [de o BC controlar a inflação], mas a mais comum é via Selic mesmo. É ela que tem maior força dentre as outras opções, que teria o efeito mais rápido ao diminuir a demanda”, comenta Braz.
Porém, a política monetária sozinha não é suficiente para conter a alta dos preços. Outros fatores macroeconômicos também ajudam a ditar o ritmo e o comportamento da variação dos preços.
Por que os juros estão altos no país?
Ao tomar sua decisão de política monetária, o BC olha para uma coisa chamada taxa de juros neutra, um nível no qual a Selic nem esfria e nem a movimenta a economia.
O Copom estima que os juros neutros do Brasil sejam de 4,75% mais a inflação. No mercado, há cálculos que apontam um valor ainda maior.
“Em função do grande endividamento público e por conta das incertezas que a gente tem no Brasil, – como o sistema tributário – o nosso juro de equilíbrio é muito alto em termos reais [descontado a inflação]”, aponta Figueiredo.
“Dadas as incertezas que nós tivemos recentes – que cresceram bastante -, primeiro associadas ao orçamento do governo federal deste ano e do ano que vem, segundo pela briga do presidente Lula com o Banco Central, isso gera dúvida nas pessoas. E essas duas dúvidas juntas fizeram com que o câmbio se desvalorizasse e as expectativas das pessoas com relação à inflação para frente também subissem muito”, conclui.
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