Ao elevar os juros em 1 ponto percentual e sinalizar altas da mesma magnitude nas duas primeiras reuniões de 2025, o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá abrir espaço para voltar a reduzir a taxa de forma mais rápida. Essa é a avaliação feita por Caio Megale, economista-chefe da XP, durante live sobre a última reunião do ano sobre juros do Banco Central, transmitida pelos canais da XP e InfoMoney.
Antes da decisão desta quarta-feira (11), a XP estimava que a Selic iria até 14,25%, com mais uma alta de 1 ponto na reunião de janeiro e outras duas, de meio ponto, nos encontros de março e maio. Agora, nas contas iniciais de Megale, além das duas altas de 1 ponto previstas pelo BC, a autoridade monetária deve fazer uma terceira elevação de 0,75 ponto e encerrar o ciclo de aperto.
“Nas nossas contas, a economia já vai estar desacelerando naquele momento, e o Banco Central vai estar mais confortável [para interromper o ciclo de alta]”, afirmou. Ou seja, a economia já deve sentir os efeitos dos juros mais altos no curto prazo, mas não se trata de uma recessão, segundo Megale. “Não é algo prolongado, na verdade é o que estamos chamando de freio de arrumação”.
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O economista também acredita que a decisão de acelerar o ritmo de alta da Selic pode contribuir para que os juros voltem a cair antes do esperado. Segundo ele, o BC pode estar indo por uma estratégia em que dá “um choque” de início para reequilibrar as coisas e “voltar ao normal” mais rápido.
“Em vez de uma estratégia que suaviza, se sobe os juros mais rápido, mas também se abre espaço para cair mais cedo. Acho que tudo vai depender do Banco Central sentir que quebrou a espinha dorsal da inflação e começou a trazê-la para baixo”, afirma o economista.
Por outro lado, segundo Megale, existe o risco de a decisão do BC suscitar novas medidas de estímulo do governo e gastos alternativos que podem acabar “aguando” a decisão do BC, atrapalhando o ajuste de curto prazo pretendido e fazendo com que a economia siga desequilibrada.
“É até importante ajustar agora para chegar em 2026 [ano de eleição presidencial] mais equilibrado, embora essa, certamente, não seja uma consideração que o Copom faça na sua análise”, disse Megale.
Âncora em ativos reais
“É importante que o investidor encontre uma âncora em ativos reais nesse momento de incerteza em relação à inflação”, afirmou Marta Zaidan, chefe de investimentos (CIO, na sigla em inglês), do family office Vos Investimentos. No crédito privado, segundo ela, tende a ficar mais difícil achar companhias que vão sobreviver à alta de juros.
“Quando você começa a falar de emissões que começam a sair por IPCA +7,5% ou + 8%, haja produtividade para a empresa conseguir pagar esse crédito”, pondera. “Caso que isso pode ser sempre rolado, mas não sabemos em que condições de mercado isso vai acontecer”.
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Apesar de a renda fixa ficar mais atrativa com juros cada vez mais altos, Marta recomenda o investimento em ativos reais. “O próprio dólar, uma forma de diversificar em um momento no qual estamos desancorados em nível de preços e o ouro, que pode ser interessante em um momento de mundo muito complicado”.
“Existem sim nomes com bastante solidez para enfrentar esse momento de juros altos e oferecer bons retornos na renda fixa. Mas, a seletividade nesse momento em que a gente está chegando a 15% é cada vez mais importante”, afirma Rachel de Sá, estrategista de investimentos da XP.
“Olhando para a Bolsa, a lógica é parecida. Com juros em alta, aquelas que conseguem repassar custos adicionais para os consumidores, são as que acabam saindo na frente”, complementa.