Embora o mercado aponte para uma aceleração do ciclo de alta de juros, com muitos defendendo um ajuste de 0,75 ponto percentual (p.p.) ou até 1 p.p. na taxa Selic na reunião do Copom desta quarta-feira (11), um banco diverge. Em relatório, o Bradesco BBI argumenta que o Banco Central deveria manter o ritmo de alta em 0,50 p.p., levando a taxa básica de juros para 11,75% ao ano.
O banco ressalta que o Brasil vive um momento peculiar, com desemprego em níveis historicamente baixos, crescimento acelerado da renda e surpresas positivas no PIB. No entanto, esse desempenho contrasta com desequilíbrios econômicos persistentes, como o aumento do déficit externo e a utilização elevada da capacidade instalada. Apesar de resultados positivos em alguns indicadores, a inflação permanece pressionada, impulsionada pela depreciação cambial e pelos preços de proteínas, enquanto as expectativas de mercado estão desancoradas.
O relatório destaca que, embora o recente pacote fiscal do governo tenha introduzido ajustes no gasto obrigatório, as medidas são insuficientes para garantir a sustentabilidade fiscal no médio prazo. Isso agrava a incerteza fiscal e pressiona ainda mais as expectativas inflacionárias.
ACESSAR AGORA
Leia também
Alta gradual ou choque de juros? Economistas divergem sobre o Copom
É consenso entre os economistas que a situação econômica sofreu deterioração desde a reunião de novembro, mas o tamanho da dose de juros necessária gera debate sobre efeitos da medida pelo BC e seus resultados
Por que manter alta em 0,50 p.p.?
Para o Bradesco BBI, a aceleração do ritmo para 0,75 p.p. não resolveria os desafios atuais e poderia aumentar a volatilidade do PIB e dos preços dos ativos. Os economistas do banco apresentam cinco pontos principais para justificar a manutenção do ritmo atual de alta:
- Foco em efeitos secundários: A política monetária deve combater os efeitos secundários dos choques primários, como a desvalorização cambial e os preços de proteínas, ao invés de reagir diretamente a eles.
- Limitações do Banco Central: O BC não tem como corrigir o problema fiscal que está desancorando expectativas e depreciando o câmbio.
- Defasagem da política monetária: O impacto das altas de juros leva tempo para ser totalmente absorvido pela economia. Alterar o ritmo de forma abrupta pode prejudicar a estabilidade econômica.
- Partida de juros altos: O Brasil já parte de uma base de juros reais elevada, considerada contracionista, apesar do impulso fiscal recente.
- Impacto limitado no câmbio: O câmbio, pressionado por incertezas fiscais, não tem respondido significativamente aos aumentos recentes da Selic.
Leia também
Selic sobe 0,75 ou 1 ponto? Veja o que está em jogo na última decisão do Copom do ano
Mercado espera posição dura que demonstre comprometimento do Banco Central com convergência da inflação
Riscos de um choque na Selic
O banco alerta que um choque na taxa de juros poderia amplificar os riscos econômicos sem benefícios substanciais para o controle inflacionário. Além disso, argumenta que os efeitos do câmbio sobre a inflação, embora relevantes, não justificam a alta de juros já precificada no mercado.
Por isso, o Bradesco BBI defende que a estratégia de gradualismo, com elevações de 0,50 p.p., permite uma convergência mais serena da inflação sem comprometer o equilíbrio econômico. Para o banco, o momento exige persistência e paciência do Banco Central, em vez de ações abruptas que poderiam desestabilizar ainda mais o cenário.