A capacidade do setor de serviços se manter aquecido mesmo em meio a desafios como o início da alta de juros e um repique inflacionário continua sendo a marca em 2024, conforme mostrou a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE relativa a outubro. Para os economistas, que voltaram a frisar a expressão “resiliência”, o desempenho reforça a projeção de um crescimento do PIB em torno de 3,5% no ano.
O volume de serviços prestados subiu 1,1% em outubro ante setembro, acima das expectativas, enquanto na comparação com outubro do ano passado houve elevação de 6 3%.
Segundo a opinião dos especialistas, continuam a aparecer sinais de que o crescimento não tem sido homogêneo. O setor de transportes, por exemplo, foi o grande responsável pela alta mensal, especialmente o aéreo, enquanto os serviços prestados às famílias mostraram alguma perda de fôlego.
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Setor de serviços avança 1,1% em outubro, mostra IBGE
O resultado de outubro ficou perto do teto do intervalo das estimativas de analistas
Rodolfo Margato, economista da XP, destaca em sua análise exatamente o impulso exercido pelo setor de transporte aéreo, que cresceu 27% em relação a setembro e mais de 34% comparado a outubro de 2023.
Mas ele sugere cautela na interpretação do resultado, uma vez que essa alta foi em boa parte gerada pela deflação nas passagens aéreas – queda de 11,4% em outubro pelo IPCA – algo que tende a ser revertido na sequência. “As passagens aéreas, segundo o IPCA, subiram mais de 20% no mês passado, o que deve derrubar o faturamento real dos serviços de transporte aéreo na próxima leitura”, alerta.
Ele comenta ainda que permanece a nossa visão de que o setor terciário continua sólido, com crescimento contínuo, apesar de alguns sinais heterogêneos entre as categorias. “Notamos certa acomodação na margem dos serviços prestados às famílias, mas, por outro lado, uma aceleração em serviços técnico-profissionais.”
Como o setor de serviços tem grande peso no PIB, Margato diz que a projeção de curto prazo da XP para o PIB do quarto trimestre foi revista para uma alta 0,6% em relação ao terceiro trimestre e crescimento de 4,3% na comparação com o último trimestre do ano passado.
“Mantemos nossa projeção de aumento de 3,5% para o PIB de 2024 como um todo, com um ligeiro viés de alta em nossas estimativas mais recentes. O PIB deve crescer entre 3,5% e 3,6%”, estima.
Leonardo Costa, economista do ASA, por sua vez, destaca que o setor de serviços já vinha de uma alta de 1,0% em setembro e que a média móvel de três meses registra um crescimento num ritmo ainda mais forte, de 1,4%.
Ele também cita como destaque positivo em outubro os serviços de transporte, além dos serviços administrativos, que subiram 1,6%. Por outro lado, ele comenta que houve queda em serviços de comunicação (-1,0%) e outro serviços (-1,4%).
Enquanto isso, os serviços prestados às famílias tiveram leve recuo (-0,1%). Para ele, isso foi efeito da volatilidade causada por eventos no Rio de Janeiro, como o Rock in Rio, que impulsionou o crescimento de outros serviços em setembro, com posterior queda em outubro.
“Muito da alta de outubro foi apoiada nos serviços de transporte, com os serviços mais sensíveis ao PIB registrando estabilidade. Apostamos em pequena desaceleração do crescimento da atividade doméstica no 4º trimestre, com o PIB avançando 3,6% em 2024”, prevê.
Fluxo nas estradas
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, concorda que o setor de serviços segue resiliente e que contribuirá para um crescimento mais forte do PIB em 2024. Além do transporte aéreo, ela destaca no mês a alta de 1,6% no transporte terrestre, que pode ter sido puxado pelo aumento no tráfego de veículos pesados em estradas.
No mês, lembra a economista, o fluxo foi 1,1% maior do que em setembro, segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR).
Ele estima que o setor de serviços deve terminar o ano com uma expansão de 3,1%. “Acreditamos que, neste momento, a atividade econômica esteja em processo de desaceleração gradual, o que deve fazer com que tenhamos no quarto trimestre um PIB um pouco mais fraco do que no trimestre anterior. Mesmo assim, nossa projeção é de que o PIB feche o ano com crescimento de 3,4%”, calcula.
Para 2025, a aposta da economista é de continuidade dos estímulos do governo deve manter o bom desempenho da economia, apesar de os juros altos pesarem sobre os investimentos. “Nossa expectativa é de que o PIB cresça 2% no ano que vem.”
Na análise do Goldman Sachs, a expansão da atividade de serviços continua a se beneficiar do estímulo fiscal contínuo, como transferências fiscais federais para famílias de baixa renda – com alta propensão a consumir -, aumentos no salário-mínimo e crescimento sólido da renda real disponível das famílias.
Tudo isso sendo em parte mitigado por condições monetárias e financeiras domésticas apertadas, altos níveis de endividamento das famílias e baixos níveis de folga econômica.
O Bradesco, por sua vez, comenta em sua análise que os serviços prestados às famílias estão andando praticamente de lado desde o final do ano passado. E destaca que os serviços de informação recuaram 1% no mês, após crescimento de 0,9% em setembro. “Apesar da volatilidade mensal, esse segmento tem tido bom desempenho e está quase 5% acima do verificado no final do ano passado.”
Como o desempenho do setor de serviços aponta para um PIB do último trimestre do ano ainda com crescimento robusto, o Bradesco colocou um viés de alta em sua projeção de alta de 3,5% do PIB do ano.