“Dominância fiscal” é possivelmente o termo mais temido por qualquer economista que tenha o mínimo de embasamento. Esse ambiente costuma ser extremamente destrutivo para o país que está envolvido no tema.
Eu sei que ele não é trivial, por isso vou te fazer entender melhor: você lembra quando eu expliquei sobre o modelo econômico brasileiro por aqui? Que nós “aceleramos” no fiscal e “pisamos no freio” no monetário?
De forma muito simples, nós temos políticas econômicas que expandem nossos gastos públicos e, como consequência, nossa dívida. Para balancear esse desajuste, o Banco Central é obrigado a trabalhar com um nível de taxa de juros superior, mais elevada, e eventualmente por mais tempo.
O grande problema é que, assim como em qualquer operação de empréstimo, nós pagamos juros sobre a nossa dívida, que, aliás, se baseia nos patamares das expectativas futuras que eu, Sr. Mercado, acredito e na própria taxa Selic. Afinal, nossos títulos de dívida são prefixados, pós fixados e atrelados à inflação.
Em outras palavras, quando os juros sobem, seja na taxa de curto prazo ou no mercado futuro, isso vai impactar o volume financeiro que nós pagamos sobre a nossa dívida, que, assim, passa a crescer. Deixe-me exemplificar:
Na última decisão do Banco Central, por unanimidade, subimos nossa taxa de juros em um ponto percentual, para 12,25% ao ano. Esse movimento na Selic nos custará R$ 50 bilhões anualizados de custo na dívida.
O tal do “pacote fiscal” discutido pelo governo teve seu benefício jogado no lixo em 2025, inclusive, por duas vezes. O BC já contratou mais duas altas de mesma magnitude até março do ano que vem, onde chegaremos a 14,25%, caso o cenário se mantenha dessa forma – ou seja, o custo será ainda maior muito em breve.
Qual foi a resposta? O dólar subiu, mesmo com esse comunicado mais duro do Copom, que deveria beneficiar o real.
O efeito de alta de juros, em outras palavras, da política monetária, deixa de surtir. A nossa política fiscal vai anular, a dívida vai seguir em trajetória de crescimento, cada vez mais acelerada, como uma bola de neve, que deve depreciar nossa moeda, que, por sua vez, “bate” na inflação e assim por diante. Como corrigimos essa rota? Um ajuste fiscal estrutural, esse é o único caminho possível para não entrarmos nesse ciclo vicioso.