Quer seja um executivo-chefe ou um gerente, uma das principais responsabilidades de um líder é o desenvolvimento de seu pessoal.
“O sucesso de um CEO pode ser medido pela presença de várias pessoas nos bastidores que estão prontas para assumir seu lugar imediatamente, caso algo inesperado aconteça ou ele decida renunciar”, diz Harry Kraemer, professor de liderança clínico da Kellogg School of Management da Northwestern University e ex-CEO da empresa de equipamentos e serviços de saúde Baxter International.
Isso também vale para o presidente dos Estados Unidos, afirma.
Após um desempenho desastroso no debate no final do mês passado, o presidente Joe Biden anunciou no domingo (21) que vai se retirar da corrida presidencial de 2024. Mais tarde, ele apoiou a vice-presidente Kamala Harris em uma postagem de acompanhamento. Apesar da pressão exercida pelos principais democratas e doadores para se afastar, Biden afirmou reiteradamente que permaneceria na corrida, acreditando que era o único candidato que poderia derrotar Donald Trump em novembro.
Sua decisão de se retirar da disputa ocorre menos de um mês antes da Convenção Nacional Democrata, em agosto, e menos de quatro meses antes do dia das eleições, deixando os democratas enfrentando dificuldades para preencher o vazio de liderança.
Quando Biden assumiu o cargo em janeiro de 2021, ele tinha 78 anos, enquanto Harris tinha 56. Dada sua idade, ele deveria ter sido proativo no planejamento sucessório desde o início, analisa Kraemer.
“A atitude correta teria sido dizer: ‘Um dos principais objetivos para os próximos quatro anos é garantir que minha vice-presidente tenha toda a visibilidade necessária, que ela esteja bem-preparada e que as pessoas saibam quem ela é, para que, em 2024, quando eu tiver 82 anos, tudo esteja preparado para que ela assuma o cargo.’” Esse é o princípio de liderança nº 1: autoconsciência, autorreflexão e humildade genuína”, explica.
Mas Biden não é o único a deixar de planejar com precisão o cenário em que se encontra. No setor privado, diz Kraemer, há muitos CEOs e líderes empresariais que reassumiram cargos depois de os terem deixado por algum motivo e que agora se agarram às suas posições há décadas. “Infelizmente, líderes se acostumam a estar no topo e a apregoarem a todos o quão excelentes são. Eles passam a acreditar que são os únicos que podem levar a empresa adiante, os únicos com a resposta certa ou, no espaço político de hoje, o único que pode vencer Trump.”
Esse tipo de pensamento pode ser um tiro que sai pela culatra, especialmente para aqueles que aspiram a avançar para o alto escalão.
Kraemer, atualmente sócio executivo da empresa de private equity Madison Dearborn Partners, relembra as reuniões do conselho da Baxter durante sua ascensão na hierarquia corporativa. “Ao orientar o conselho ou a equipe executiva nos projetos, eu sempre mencionava as duas ou três pessoas que estavam abaixo de mim que os executaram.”
Isto não só proporcionava visibilidade para esses colaboradores perante os membros seniores, mas também representava uma conquista para Kraemer. Quando surgiram vagas em cargos de nível superior, ele era promovido porque a empresa confiava que ele havia desenvolvido vários colaboradores capazes de assumir seu cargo anterior sem causar problemas para a empresa. “É ótimo ser o melhor no seu trabalho, mas você também deve ser substituível”, afirma. “Embora pareça contraintuitivo, se você é o melhor no seu trabalho e ainda não há alguém preparado para assumir seu lugar, a empresa tende a mantê-lo por tempo indeterminado.”
Ainda assim, a política corporativa está em jogo. As estrelas em ascensão não querem parecer que estão almejando o cargo de CEO ou que estão insatisfeitas com sua posição atual. Até Harris, que claramente tem aspirações presidenciais, reiterou seu apoio à candidatura à reeleição de Biden, apesar dos esforços relatados nos bastidores para fortalecer sua própria campanha enquanto Biden enfrentava pressões para se retirar da corrida. É uma dança delicada e desconfortável para executivos em ascensão. Mesmo assim, Kraemer recomenda ser proativo ao mostrar interesse e competência quando parece que um grande cargo poderá estar disponível em breve.
“No final das contas, a única pessoa responsável pelo seu desenvolvimento é você. Portanto, é essencial garantir que você esteja visível e se oferecer para novos projetos, para estar preparado quando a oportunidade de uma posição mais alta surgir”, afirma.
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