O fechamento mais expressivo dos spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos) de grandes empresas com melhor classificação de risco de crédito (rating) deixou o trabalho de investidores mais difícil nos últimos meses.
“As grandes empresas conhecidas estão com spreads muito apertados. Isso está demandando um índice de acerto maior na escolha dessas posições [de crédito privado]”, disse Alexandre Muller, sócio e gestor de crédito privado na JGP, durante painel do Encontro dos Profissionais de Investimentos e de Previdência do Norte e Nordeste (Epinne-Epb 2024), na sexta-feira (26), em Recife.
Para o executivo, o momento atual de mercado está mais difícil e exige uma maior seletividade dos ativos. “Não é para comprar qualquer coisa, qualquer fundo, qualquer cesta”, resumiu.
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A expectativa é que os fortes retornos impulsionados pelo recuo dos spreads nos últimos meses também não se repita daqui para frente. “Não vejo nada no curto prazo que mude esse conceito. Mas continuo achando uma taxa muito interessante para investir nos próximos anos”, avaliou Rafael Zlot, sócio do Grupo Genial e CIO de renda fixa da Plural Gestão, que também participou do mesmo painel.
Ainda que os spreads estejam fechando, há quem considere que o cenário macroeconômico é incerto e que vale a pena se proteger de possíveis aberturas das taxas.
Uma das maneiras escolhidas recentemente por Zlot para minimizar eventuais efeitos de aberturas foi reduzir a duration (prazo médio ponderado de recebimentos dos fluxos de um título) dos títulos que estão na carteira. “Temos alocado em papéis com menor duration para que o investidor não sofra muito se o spread abrir demais”, afirmou o executivo.
Efeitos da Selic alta no crédito
Ainda que a avaliação seja que a taxa básica de juros permanecerá mais alta por mais tempo, com chance de ficar estável em 10,50% ao ano até o fim de 2024, Muller, da JGP, diz que a situação parece bem menos grave do que a vista entre 2021 e 2023, quando o juro chegou a 2% e subiu rapidamente para 13,75%,. “Ali foi quase um cavalo de pau”, resume.
Agora, ele conta que companhias já estão em modo de cautela e que a casa contabilizou cerca de 40 aumentos de capital ao longo dos últimos meses, o que ajudou a não ter problemas no mercado de crédito privado e a incrementar o fôlego das empresas.
“Olhando para frente, acho que entraremos no modo banho maria. Não teremos grandes eventos de crédito com a Selic a 10,50%, mas as empresas terão o desafio extra de monitorar os seus balanços se essa taxa básica de juros voltar a subir”, acrescentou Muller. A casa atualmente prevê que a Selic permaneça em 10,50% até o fim do ano.