O mercado de crédito privado ganhou tração e virou o “queridinho” dos investidores pessoa física nos últimos meses. No entanto, quem optou por alocar em títulos de empresas mais conhecidas deparou-se com um fechamento (recuo) significativo dos spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao papéis públicos) oferecidos pelos ativos – o que dificultou o trabalho do investidor pessoa física e do gestor.
Dentro da Genial Investimentos, a alternativa foi diminuir a duration (prazo médio ponderado de recebimentos dos fluxos de um título) dos papéis da carteira.
“Não acho que vai ter muito fechamento de spread nos papéis óbvios, tipo AAA, AA+. Neles, o prêmio [sobre o Tesouro IPCA+] já quase inexiste. O segredo é diminuir duration. Os papéis que vemos pouco prêmio, temos diminuído duration“, contou Rafael Zlot, CIO de renda fixa da casa, em entrevista ao InfoMoney, durante o Encontro dos Profissionais de Investimentos e de Previdência do Norte e Nordeste (Epinne-Epb 2024), na semana passada.
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A expectativa da casa para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (31) é que a autoridade monetária mantenha os juros em 10,50% ao ano – projeção que deve se manter até o fim de 2024, pelo menos por enquanto.
O executivo afirma que não há uma regra, mas que a gestora costumava alocar em papéis com duration de até três anos, por exemplo, mas agora prefere títulos com prazo de um ano e meio. O profissional não cita casos específicos, mas conta que a gestora montou posição em algumas companhias ligadas à concessões públicas e que não eram muito conhecidas recentemente.
Zlot explica que a opção por alocar em ativos com menor duration é porque tais papéis sofreriam menos no caso de uma possível abertura de spreads. Isso porque, explica, quanto maior o prazo, maior tenderia a ser também a volatilidade do título até o seu vencimento.
“Como [o spread] não vai fechar muito mais, não vejo muito ganho em alongar muito o papel. Há algum ou outro título que vemos uma arbitragem, mas alongamos apenas quando há um preço compatível, o que não existe muito no caso de papéis óbvios”, acrescentou o profissional.
Momento é de cautela
Na visão de Zlot, uma eventual abertura dos spreads de crédito parece menos provável, mas é preciso cautela neste momento. Segundo ele, o mercado de crédito “ignorou” a piora no cenário fiscal no Brasil e o movimento visto na curva americana no começo do ano quando o rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de dez anos bateu 5%, duas variáveis que poderiam ter provocado efeitos no crédito local, ainda que esse tipo de mercado demore mais a reagir.
“Não teve nada ainda nas duas principais variáveis que trouxe desespero ao mercado de crédito, que levou a uma abertura dos spreads. Não me parece que vai fazer, mas temos que monitorar”, diz o executivo.
Uma opção que pode ser interessante neste momento, afirma Zlot, é alocar em fundos que possuem um hedge (proteção) parcial contra oscilações da curva de juros reais. O profissional lembra que fundos de debêntures incentivadas que estão totalmente “hedgeados” ofereceram ganhos expressivos aos investidores com a queda dos spreads, mas que o momento poderia ser interessante para ter uma certa exposição a produtos que conseguem se beneficiar de eventuais oscilações na curva de juro real.
“Tem uma chance de fechar a taxa real da B [título público atrelado à inflação] e pode ser que seja uma boa alocação se o investidor acreditar que o cenário vai ser um pouco mais otimista daqui para frente”, afirma o executivo, diante da chance de cortes de juros nos Estados Unidos e de uma eventual melhora dos ruídos fiscais. Na prática, um eventual recuo das taxas reais oferecidas pelos papéis faria com que o preço deles aumentasse.