SÃO PAULO – Quem viu o Ibovespa fechar 2014 com leve queda de 2,91% imagina em um primeiro momento que pouca coisa mudou no mercado brasileiro em 12 meses. Pode até ser que em variação de pontos o principal índice de ações da BM&FBovespa pouco mudou, mas se olhar a composição da carteira, muita coisa mudou daquele tradicional “Petrobras, Vale e o resto”.
Estudar as mudanças na composição da carteira teórica de ações que compõem o Ibovespa de um ano para outro é uma boa maneira de entender como foi o ano que passou. No caso, as alterações de 2014 para 2015 revelam um 2014 mais concentrado, com mais ações perdendo participação do que ganhando, além de mais saídas do que entradas no índice, que contava com 72 papéis em 2014 e agora só tem 68.
Alguns setores chave também acabaram perdendo significativamente suas participações na carteira, como é o caso das siderúrgicas e das incorporadoras. Em geral, 2014 foi um ano de derrocada de papéis dependentes do crescimento da economia ou dos preços das commodities, ao mesmo tempo em que foi de avanço de papéis com perfil mais defensivo.
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Veja as principais mudanças no índice no ano que passou:
1. Mais concentrado
Ao todo, 27 papéis ganharam participação, dois ficaram no zero por terem entrado apenas na virada de 2015 – Marcopolo e Multiplan – e 38 perderam peso no índice. Assim, o Ibovespa acabou ficando mais concentrado, com um aumento de 11,3% do peso do “Top 5” (5 ações com maior participação) e de 10,27% do “Top 10”, o que revela um aumento de 3,66 e 4,91 pontos percentuais, respectivamente, em relação a janeiro de 2014.
2. Menos Petrobras e Vale, mais bancos
O movimento mais óbvio de mudança de importância no índice está na perda de peso da Petrobras (PETR3; PETR4), que juntando ordinárias e preferenciais respondia por 12% da carteira no começo de 2014 e agora tem uma fatia de reduzida para 7,7% – uma queda de 36,58%. No mesmo sentido, a Vale (VALE3; VALE5) foi de 11,82% para 7,68% em 12 meses, um recuo de -34,98% em importância. Com isso, petrolífera caiu da primeira posição para a quarta, enquanto a mineradora foi da segunda para a quinta posição.
No sentido oposto, houve um aumento brutal na participação dos papéis de bancos como o Itaú Unibanco (ITUB4), que foi de 6,89% para 11,2%, e do Bradesco (BBDC4), que foi de 5,3% para 8,6%, ocupando agora a primeira e a segunda posição, respectivamente. A Itaúsa (ITSA4), holding com forte participação no capital do Itaú, também subiu, indo de oitava para sétima.
Ao todo, se em 2014, a estatal petroleira e a mineradora respondiam juntas por 23,96%, sendo que agora “só” respondem por 15,3%, uma queda de 35,79% na participação. Já a soma dos três bancos junto com a Itaúsa foi para 27,27%, depois de estar em 19% em 2014, uma variação positiva de 43,53%.
3. “Boas empresas” no topo
Outros movimentos menos óbvios também podem ser notados. É o exemplo das ascenções meteóricas de Ambev (ABEV3), BB Seguridade (BBSE3), BRF (BRFS3) Kroton (KROT3).
A Ambev, empresa de maior valor de mercado do Brasil, foi a segunda que mais ganhou em participação no ano que acabou. A empresa quase dobrou sua participação no Ibovespa, que foi de 3,79% para 7,12%, um incremento 87,9%.
O BB Seguridade, braço de seguros e previdência do Banco do Brasil, tinha 1,56% de participação em 2014 e foi para 2,55% em 2015, um incremento de 63,5%. A empresa é dona de um dos raros casos de IPO bem sucedido na Bovespa dos últimos anos, tendo visto seus papéis se valorizarem em 78,92% desde abril de 2013, quando abriu capital.
Outra empresa que está entre os pesos pesados do índice e que está ainda mais forte dentro da carteira é a da BRF. O frigorífico ganhou 45,75% de participação, indo de 2,49% em 2014 para 3,63% em 2015. A BRF apresentou resultados sólidos e inaugurou fábricas em diversos países, beneficiando-se também do aumento das importações de alimentos pela Rússia após sanções por conta da invasão da Crimeia. A BFR era a 17ª ação mais pesada do índice, tornando-se a 8ª em 2015.
Já no caso da maior educacional da Bolsa, a Kroton foi a campeã absoluta de 2014, vendo seus papéis se valorizarem em 64% no ano e sua participação no Ibovespa subir de 1% para 2,1% (incremento de 155%), tornando-se a 14ª mais importante do índice. Contudo, se em 2014 ela foi beneficiada por uma expansão que incluiu a fusão com a Anhanguera e por programas do governo federal como o Fies e o Prouni, em 2015 as restrições para aderir ao Fies e o “aperto” do governo chegando ao setor fizeram a companhia perder 18% apenas neste ano.
4. Mais JBS e menos Marfrig
Enquanto isso, a JBS (JBSS3), sem ainda ter sido afetada pelas citações em documentos da Operação Lava Jato, ganhou participação ao longo de 2014 com resultados trimestrais sólidos. Ela mais que dobrou (a variação percentual foi de 73,97%) seu peso no Ibovespa de 1,2% para 2,1%, indo de 29ª para 15ª mais importante da carteira.
No mesmo setor, a Marfrig (MRFG3) perdeu em 31,14% sua participação no índice apesar de fechar o ano como a segunda ação que mais subiu, vendo seus papéis se valorizarem em 52,5%.
5. Siderúrgicas caem
Vítima de uma queda de mais de 60% no ano passado, a Gerdau (GGBR4) era a 13ª ação mais pesada do índice em 02 de janeiro de 2014, respondendo por 2% do Ibovespa. Hoje ela é apenas a 26ª mais valiosa, respondendo por 1%. Mais impressionante ainda foram as quedas de CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5). A primeira era a 25ª ação mais pesada do índice no começo de 2014, mas hoje já é a 45ª – uma queda de 67,53%. A segunda despencou de 28ª para 54ª – uma queda de 77,07%.
A redução do preço do aço com a desaceleração de setores como o automobilístico e o menor crescimento da economia chinesa acabaram sendo golpes muito duros para as empresas de siderurgia e suas menores participações na carteira teórica do Ibovespa refletem isso.
6. Incorporadoras de mal a pior
Outro setor que sofreu foi o de incorporadoras, que foi de mal a pior entre 2014 e 2015. Os papéis da Rossi (RSID3) estão entre os que deixaram o índice, ao passo que Gafisa (GFSA3) teve sua participação reduzida de 0,6% para 0,1%, (variação negativa de 82,93%), indo de 53ª empresa mais pesada para 68ª em 68 existentes; PDG (PDGR3), foi de 1,02% para 0,13%, tendo a pior queda percentual em participação do índice de todas as ações (-86,77%), e Even (EVEN3) foi de 0,34% para 0,13%.