SÃO PAULO – Os analistas João Sandrini e Thiago Salomão comentaram nesta sexta-feira (22) os principais eventos que mexeram com o mercado em 2017, desde a derrocada com o caso Joesley Batista até a euforia no segundo semestre e as máximas atingidas pelo Ibovespa. Além disso, os dois apresentaram as novidades do InfoMoney no ano que termina e já adiantam o que esperar em 2018.
2017 foi um ano de muitas novidades no InfoMoney. A mais recente delas é o nosso Whatsapp InfoMoney, onde quem se cadastrar gratuitamente receberá rapidamente e direto no celular uma notícia que está agitando o mercado financeiro.
Durante o vídeo, eles explicam o funcionamento do Whatsapp IM e também comentam as novidades do app InfoMoney, do Guia InfoMoney Onde Investir 2018, os cursos que mais venderam neste ano, entre outras novidades.
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Confira um resumo do mercado em 2017:
JANEIRO (Ibovespa: +7,4%)
Janeiro começou parecendo ser o 13º mês do terrível 2016 que teimava em não acabar, mas terminou com uma explosão de otimismo (IBOV +7,4%). Esperava-se que o mercado fosse operar em “stand by mode”, por conta do recesso parlamentar em Brasília e pela espera dos primeiros passos de Donald Trump, e ainda tivemos a trágica morte de Teori Zavaski, relator da Lava Jato no STF e um dos principais personagens da operação, o que poderia trazer um clima extra de apreensão nos investidores.
No entanto, o fluxo falou mais alto do que as preocupações e o Brasil mostrou-se um dos principais destinos do capital estrangeiro dentre os emergentes, não só pela expectativa por uma retomada da economia ao longo do ano como também pelos maus momentos vividos por “concorrentes” como México (efeito Trump) e Turquia (tensões políticas).
FEVEREIRO (Ibovespa: +3,1%)
Mês curto, mas cheio de boas notícias. Destaque para a expectativa de cortes cada vez mais fortes na Selic (ela iniciou o ano em 13,75% e recebeu um corte surpresa de 75 bps no primeiro Copom), além dos sinais mais claros de como Trump pretende estimular os EUA. O rali interminável das commodities metálicas, indicadores econômicos melhores que o esperado no Brasil e a expectativa por bons resultados corporativos em 2017 ajudaram a apimentar as carteiras dos investidores. No lado negativo, o cenário ainda muito incerto para o governo Temer, que volta a mostrar sinais de fragilidade nos dias que antecedem a publicação de novidades acerca da Lava Jato.
MARÇO (Ibovespa: -2,5%)
Operação Carne Fraca, deflagrada pela PF no dia 17 e que ligou o sinal de alerta vermelho no governo Michel Temer, que tenta mostrar com muito custo que a economia está conseguindo se recuperar. A Lava Jato continuou no radar, com destaque para a famosa “lista de Rodrigo Janot”, com pedidos de investigação da PGR para o STF com base na delação da Odebrecht. Não houve divulgação oficial de nomes, mas as informações são de que nove ministros, senadores de oposição e da base, governadores, além dos ex-presidentes Dilma e Lula foram alvos dos pedidos ao ministro Edson Fachin, o que já agitou e muito o cenário político.
No noticiário econômico, o governo anunciou corte de gastos de R$ 42,1 bilhões e fim da desoneração para quase todos os setores de forma a cobrir o rombo de R$ 58,2 bilhões no Orçamento, notícia esta que foi recebida com frieza pelo mercado. Caged voltou a contratar mais do que demitir após 22 meses de saldo negativo.
ABRIL (Ibovespa: +0,64%)
Aprovou a reforma trabalhista, mas com um número de votos insuficiente para avançar a PEC da Previdência; impopularidade de Temer mostra que outsiders ou volta de Lula podem assombrar 2018
MAIO (Ibovespa: -4,1%)
Foi o mês da total desilusão. Após vislumbrar um cenário de grandes dificuldades para a aprovação da reforma da previdência, o governo do presidente Michel Temer conseguiu diminuir as resistências e estava construindo uma base considerável para que ela passasse na Câmara. Na primeira quinzena do mês, a expectativa era de que a reforma da Previdência fosse votada na Câmara em primeiro turno ainda em maio. Se a votação ocorresse antes do Copom, a expectativa do mercado era de que o corte da Selic pudesse chegar a 150 pontos-base, o que poderia guiar um novo ânimo para a economia, balizado pela baixa inflação.
Porém, todo o cenário mudou na noite de 17 de maio, quando o colunista do jornal O Globo Lauro Jardim soltou uma reportagem apontando que um dos donos da JBS, Joesley Batista, teria gravado Temer dando aval para que o empresário comprasse o silêncio do ex-deputado, atualmente preso, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que ameaçava há muito delatar (e implodir o mundo político).
Além de Temer, o então presidente do PSDB (agora licenciado) Aécio Neves foi gravado pedindo R$ 2 bilhões a Joesley. A notícia surgiu como uma bomba no mundo político e, apesar das gravações divulgadas posteriormente não se mostrarem conclusivas especificamente sobre o assunto “compra de silêncio”, o diálogo era grave e o estrago já tinha sido feito. Na manhã após a divulgação da notícia do O Globo, a bolsa entrou em “circuit breaker” pela 1ª vez desde 2008 e o dólar registrou a sua maior alta em 14 anos, refletindo o total ambiente de incertezas com as reformas.
JUNHO (Ibovespa: +0,3%)
O mês de junho foi bastante emblemático neste sentido. Ao mesmo tempo que o 1º de junho marcou a divulgação da primeira leitura positiva do PIB após oito trimestres de retração, economistas cortavam a projeção para a economia de olho na deterioração da confiança com o “Friboigate” e o cenário pior para as reformas.
JULHO (Ibovespa: +4,8%)
A denúncia apresentada por Rodrigo Janot ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra Michel Temer pelo crime de corrupção passiva foi o tema central em julho.
AGOSTO (Ibovespa: +7,5%)
Agosto deixou claro para os investidores que, enquanto a música estiver tocando, os mercados vão seguir dançando. Em um mês que tinha tudo para dar errado (forte alta do Ibovespa em julho + denúncia contra Michel Temer + tensão entre Coreia do Norte x EUA), o Ibovespa subiu 7,46% e teve seu melhor mês do ano, voltando a operar muito próximo dos 72 mil pontos pela 1ª vez desde 2010 (a saber: no primeiro pregão de setembro, esse patamar chegou a ser rompido).
Os motivos para isso? Os dois pontos citados acima (Temer + Coreia e EUA) foram dissipados. A começar por Temer: a denúncia de corrupção passiva apresentada por Rodrigo Janot contra o atual presidente mostrou que toda a articulação política um mês antes não foi em vão: foram 263 deputados que votaram a favor do parecer que recomendava a rejeição da denúncia (bem acima dos 172 votos necessários para impedir o prosseguimento da investigação no STF). Já a tensão entre EUA e Coreia, embora não tenha sido totalmente extinta, neste momento faz bem menos preço do que outrora.
Além disso, tivemos: i) IPCA-15 abaixo do esperado, tirando ainda mais o peso da inflação; ii) privatizações, com 57 projetos incluindo a Eletrobras (fato que fez a empresa subir 40% na bolsa no dia do anúncio); iii) aprovação do texto-base da TLP (Taxa de Longo Prazo), que será usada para balizar os empréstimos do BNDES a partir de 2018, substituindo a contestada TJLP; e iv) o silêncio de Janet Yellen (Fed) e Mario Draghi (BCE).
SETEMBRO (Ibovespa: +4,9%)
Apesar de ser um dia trágico na recente história, 11 de setembro ficará na memória do investidor pela superação do topo histórico marcado em 29 de maio de 2008 nos 73.920 pontos, agora em 76.419 pontos, o que selou o bom momento do mercado em 2017, ano que o Ibovespa sobe mais de 20%. Os sinais de recuperação da economia e o comportamento benigno da inflação sustentaram o bom humor dos investidores, que também foram embalados por mais um mês de recordes nas bolsas internacionais.
Porém, o fim do mês e aquela impressão de que estamos no final da festa recaiu sobre o mercado. O discurso da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, sinalizando que os juros devem subir antes da inflação atingir a meta de 2% pode ser o “início do fim” da farra da liquidez. Além disso, boa parte do ritmo de cortes do Copom, que deve levar a Selic até 7%, já está precificado pelo mercado. Por fim, cada vez mais pesquisas indicam que as incógnitas Lula e Bolsonaro seguem com forte capital político e aumentam as incertezas sobre uma agenda reformista para 2019. Assim, encerrado setembro, fica a pergunta: o que pode levar o mercado para um novo rali de alta?
OUTUBRO (Ibovespa: +0,02%)
Como o esperado, Michel Temer conseguiu sobreviver a mais uma denúncia na Câmara, mas o placar de 251 votos a favor e 233 contra mostrou um enfraquecimento da base aliada e que o governo terá que trabalhar ainda mais para discutir o texto da reforma da Previdência, mesmo em uma versão mais enxuta. Assim, as esperanças pelo andamento da agenda de reformas, a cada dia estão “indo para o ralo”, principalmente há um ano das eleições de 2018, que também começou a trazer volatilidade ao mercado.
Em campanha pelo Brasil, Lula está ganhando terreno nas pesquisas de intenção de voto para a presidência e a possibilidade de disputa com Jair Bolsonaro começou assustar o mercado, principalmente com os nomes “pró-mercado” em uma disputa interna, refletindo diretamente no humor do mercado. Se o clima político não deve favorecer a bolsa, as esperanças estão ancoradas mais uma vez no cenário econômico, após a última ata do Copom não decretar o fim do ciclo de cortes de juros da Selic, que vai depender do comportamento da inflação.
NOVEMBRO (Ibovespa: -3,2%)
Depois de cinco meses consecutivos de valorização, o Ibovespa caiu 3,15% em novembro, mas nada que ofusque o desempenho de 2017, que acumula valorização de 20%. No mês passado, o mercado oscilou ao gosto do otimismo (e pessimismo) com a reforma da Previdência, acompanhando de perto os movimentos do governo para organizar sua base aliada para conquistar 308 congressistas para aprovar a PEC.
Novembro também ficou marcado pela mudança do cenário político para 2018, com a saída de Luciano Huck do páreo, o ressurgimento de Geraldo Alckmin na disputa após ser aclamado presidente do PSDB, o que animou o mercado já que o governador de São Paulo poderá conduzir o desembarque do partido do governo e acomodar os partidos do “centrão”. Do lado da economia, o PIB do 3º trimestre revelou uma dinâmica de crescimento saudável e gera otimismo com relação aos resultados das empresas, com crescimento do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo. Além disso, a inflação seguiu comportada, elevando as apostas de que o IPCA encerrará o ano abaixo da meta de inflação de 3%.