O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, nesta quarta-feira (19), manter a Selic em 10,50% ao ano. Mas, em uma conjuntura inusitada, a maior preocupação do mercado – e, consequentemente, maior impacto nos investimentos – não estava no resultado da reunião, mas em como votariam os membros do Comitê.
Para o alívio dos agentes, os diretores do Banco Central se uniram em votação unânime pela manutenção dos juros. “A unanimidade pode acalmar o mercado, tirando a ideia de divisão no BC”, diz Jorge Dib, sócio e gestor da Galapagos Capital. Diante do cenário atual, veja o que os especialistas recomendam em cada classe de ativos:
- Renda fixa
- Ações
- Fundos de investimento
- Fundos imobiliários (FIIs)
- Investimentos no exterior
Renda fixa
Com títulos públicos oferecendo rentabilidade alta, os investidores encontram refúgio confortável na renda fixa. E o cenário deve ser favorável para a classe por um bom tempo. Dib, da Galapagos, não acredita em queda forte das taxas no curto prazo. “Acho pouco provável, considerando que isso aconteceria em cima de dois fatores difíceis de serem resolvidos rapidamente: a expectativa de inflação longa e o fiscal do País”.
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Os três principais títulos do Tesouro – Tesouro Selic, Tesouro IPCA+ e Tesouro Prefixado – são indicados por especialistas agora. No Tesouro Selic, o investidor tem muita segurança, já que eles não sofrem efeito de marcação a mercado, e devem seguir pagando juro alto ao longo do ano.
Nos títulos atrelados à inflação, o juro real superior a 6% ao ano, a proteção contra o aumento de preços e a possibilidade de lucrar com a venda antecipada, vislumbrando fechamento das taxas no longo prazo, são atrativos. Com os prefixados entregando taxa superiores a 12% ao ano, travar a rentabilidade em um patamar alto vale a pena, para os analistas. “Vemos prêmio nos prefixados porque não acreditamos no cenário de aumento de taxa de juros, como a curva precifica, estamos focados nos prés de curto prazo”, conta João Coutinho economista e diretor da RJ+ Asset.
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No crédito privado, as debêntures incentivadas, isentas de Imposto de Renda, seguem como um dos instrumentos preferidos dos especialistas. Leonardo Ono, gestor de crédito privado da Legacy, reconhece que os spreads (prêmio adicional em relação aos títulos públicos) encolheram, mas projeta volta à normalidade nos títulos de empresas consideradas mais seguras: “algumas emissões vieram com taxas exageradamente baixas, acredito que esse tipo de papel, que chegou a ter spread zero, pague entre 0,30 e 0,50 ponto percentual a mais que o Tesouro IPCA+”.
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Ações
O Ibovespa acumula queda de 10% no ano. Mesmo assim, quem acompanha a Bolsa de perto acredita que o mercado acionário pode ter uma virada no segundo semestre e fechar o ano no azul. O mercado monitora dois fatores de risco a longo prazo: aumento das projeções de inflação e gastos públicos. “Se parte desses riscos for razoavelmente endereçada nos próximos meses, não acho improvável uma alta da Bolsa no ano”, diz Paulo Abreu, gestor e sócio da Mantaro Capital.
O especialista se diz animado com a Bolsa, avalia que as ações estão baratas e gosta do setor de construção civil, com Cyrela (CYRE3) e Lavvi (LAVV3) entre as favoritas: “podem ir muito bem com melhora da renda, do mercado de trabalho e com espaço para queda de juros”.
Abreu e Werner Roger, CIO da Trígono, ainda compartilham o sentimento otimista com o setor financeiro. “É o porto seguro da Bolsa e ainda pagam bons dividendos”, diz Roger. A Trígono tem preferência pelas ações do Banco da Amazônia (BAZA3) e Banco do Brasil (BBAS3), “que, para nós, é o mais descontado dos grandes bancos, distribui bons dividendos e vem ganhando eficiência”.
Ações ligadas a commodities também são bem vistas na Trígono, com destaque para Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3), que têm parte de suas receitas em dólar. “Se o dólar subir a R$ 6, estamos protegidos”, justifica Roger.
Fundos de investimento
João Arthur Almeida, CIO da Suno Asset, diz ver oportunidades em fundos de ações, diante de cotas e de papéis de empresas mais descontados neste momento. “O múltiplo preço sobre lucro da Bolsa está historicamente barato e os lucros das companhias não tem sido revisados para baixo. Achamos que, em algum momento, esse múltiplo pode ser ajustado”, avalia o executivo, embora não esconda que o curto prazo pode ser difícil para os produtos.
Fundos indexados à inflação também são citados por Almeida como uma opção para o investidor. Segundo ele, tais produtos não obtiveram boas performances neste ano, mas poderiam se aproveitar de taxas de juros reais elevadas, em torno de 6%, o que tende a ser raro no país. Já fundos multimercados não estão na lista de preferências da casa e tiveram a posição reduzida recentemente.
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Fundos imobiliários (FIIs)
Apesar da concorrência dos títulos públicos, André Freitas, da Hedge Investments, ainda vê os fundos imobiliários como uma boa opção para o investidor. “Temos fundos de recebíveis oferecendo IPCA mais 10%”, detalha o gestor, que destaca também descontos de até 15% em FIIs com bons portfólios.
Dada a recente desvalorização do mercado – que devolveu os ganhos de 2024 e opera atualmente praticamente no zero a zero –, ele classifica o momento como uma excelente oportunidade de entrada em um mercado que ainda oferece rendimentos isentos de Imposto de Renda, lembra Freitas.
Para Larissa Nappo, analista do Itaú BBA, fundos de “tijolo” – que investe diretamente em imóveis – sofrem mais com a expectativa da Selic em dois dígitos por mais tempo. Desta forma, os fundos de “papel” – que investem em títulos de renda fixa – tendem a ter uma performance melhor, sinaliza a especialista.
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Investimentos no exterior
Para quem investe lá fora, nada muda (ou, pelo menos, não deveria mudar). Afinal, a ideia de investir fora do Brasil é diversificar a carteira para mitigar os riscos que os ativos nacionais têm. Outro ponto importante desse tipo de investimento é o patamar do dólar. Para Luiz Osório, gestor de fundos internacionais da Somma Investimentos, “não existe momento ideal para investir no exterior, é um investimento estrutural, que deve ser feito continuamente”.
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O especialista recomenda o investimento em renda fixa nos Estados Unidos, com foco em treasuries, os títulos de renda fixa emitidos pelo governo norte-americano, equivalentes ao nosso Tesouro Direto. Osório gosta de títulos com vencimento entre três e sete anos.
Na renda variável, Caio Schettino, head de alocações da Criteria, prefere ações com potencial de crescimento, especialmente nos setores de saúde, segurança cibernética e processamento de dados. “Na nossa visão, são os principais candidatos a performarem bem com os avanços da inteligência artificial”, comenta o especialista.