(Bloomberg) — No domingo, Cuba enfrentou os maiores protestos em décadas, quando milhares marcharam exigindo liberdade e comida. A crise econômica mais profunda desde o colapso da União Soviética, o aumento dos casos de Covid-19, apagões de energia e maior acesso às redes sociais ajudaram a alimentar o descontentamento com o regime comunista de 62 anos.
Crise econômica
A pandemia devastou a economia da ilha. Sem a ajuda do turismo, o PIB encolheu 11% em 2020, segundo o ministro da Economia, Alejandro Gil, a pior queda desde o início da década de 1990, quando o colapso do comunismo na Europa Oriental privou a nação de aliados e parceiros comerciais.
Em resposta, este ano o governo suspendeu muitos subsídios e eliminou o sistema de duas moedas, que existia há décadas. As mudanças eram necessárias, mas também desencadearam uma “espiral inflacionária”, segundo o Ministério de Finanças e Preços de Cuba. Alguns economistas estimam que a inflação poderia ultrapassar 400% este ano.
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Surto de Covid-19
Cuba conseguiu manter os casos de Covid-19 sob controle no início da pandemia e desenvolveu duas vacinas. Mas a taxa de infecções voltou a aumentar, embora a ilha de 11 milhões de pessoas tenha administrado 7,5 milhões de doses. No domingo, o país havia registrado 6.923 novos casos de coronavírus e 47 mortes devido à Covid-19, ambos recordes diários. O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, disse na segunda-feira que ter tantas pessoas infectadas e isoladas afeta a economia ao forçar a ilha a dedicar seus limitados recursos de eletricidade a hospitais e centros de recuperação.
Manifestantes com fome
Cuba importa muitos de seus produtos básicos, e o governo, com problemas de liquidez, tem se esforçado para manter as prateleiras abastecidas. Recentemente, limitou a troca de pesos cubanos por dólares, um dos elementos-chave do pacote de reformas de janeiro, porque o governo precisava do dinheiro para financiar as importações.
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Com esses problemas, combinados com a desaceleração econômica mais ampla e o avanço da inflação, muitos cubanos não têm o suficiente para comer. Além dos gritos de “Liberdade” e “Abaixo o Comunismo” ouvidos no fim de semana, uma das principais mensagens foi “Temos Fome”.
Êxodo
A crise econômica também acelera a emigração. Até maio do ano fiscal de 2021, a Patrulha de Fronteira dos EUA disse ter parado 23.066 cubanos, muito mais do que os 14.015 que havia detido em todo o ano fiscal anterior.
Apagões de energia
Os cubanos também estão enfurecidos com os apagões contínuos. Na segunda-feira, o ministro de Minas e Energia, Livan Arronte, disse que uma combinação de problemas em usinas, aumento da demanda por eletricidade e obstáculos para a importação de combustíveis devido às sanções dos EUA levaram ao racionamento de energia. A Venezuela, que já foi um aliado confiável de Cuba para o abastecimento de petróleo, também não consegue ajudar muito enquanto enfrenta sua própria crise econômica.
Embargo e Twitter
Para as autoridades cubanas, os protestos têm duas causas: o embargo comercial de 1959 dos Estados Unidos e as redes sociais. O embargo foi endurecido em 2017, pressionando ainda mais a economia de Cuba e reduzindo o número de nações dispostas a fazer negócios com a ilha.
O regime também afirma que os EUA manipularam os cubanos por meio das redes sociais para participarem dos protestos. O número de cubanos com acesso às redes sociais aumentou nos últimos anos. Na segunda-feira, o governo parecia ter restringido o acesso a alguns sites, como Facebook, Twitter e WhatsApp.
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