O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu refazer completamente o governo e exercer novo poder como chefe de Estado.
As promessas ambiciosas, se promulgadas, transformariam a sociedade. Algumas de suas promessas mais repetidas na campanha eleitoral incluem:
- Deportação em massa de 11 milhões de imigrantes ilegais
- Fechamento da fronteira sul [com o México] e fim da cidadania por direito de nascimento
- Tarifas sem precedentes sobre produtos estrangeiros de todos os países, mas especialmente da China
- Cortes de impostos expansivos para beneficiar corporações, trabalhadores com gorjetas, idosos na Previdência Social, proprietários de imóveis no Nordeste e muitos outros
- Trilhões em cortes nos gastos do governo com a ajuda de Elon Musk
- Reforma dos sistemas de saúde e alimentação do país com a ajuda do cético em relação às vacinas Robert F. Kennedy Jr.
- Reversão de regulamentações destinadas a lidar com as mudanças climáticas
- Construção de um novo escudo de defesa antimísseis com a ajuda do ex-jogador da NFL Herschel Walker e muito mais
Agora, os americanos descobrirão o que era hipérbole e o que era real – o que é alcançável e o que ele será capaz de fazer passar sozinho, com a ajuda do Congresso e sem interferência dos tribunais.
Sua promessa de acabar com a guerra da Rússia contra a Ucrânia “em 24 horas”, por exemplo, parece exagerada.
Já a promessa de um esforço de deportação em massa, por outro lado, é muito séria. Parece ser apoiada por algum planejamento claro, mas há uma falta de detalhes públicos.
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Existe um plano mestre?
Durante a campanha, Trump tentou se distanciar do Projeto 2025, um plano controverso e detalhado para um governo federal publicado por conservadores da Heritage Foundation em antecipação a um segundo mandato do empresário.
Embora o republicano possa não querer se associar a esse projeto, ele foi formulado por seus aliados — pelo menos 140 pessoas associadas ao Projeto 2025 trabalharam na administração de Trump, de acordo com uma revisão de Steve Contorno, da CNN.
Certamente há alguma sobreposição entre muito do que o Projeto 2025, de 900 páginas, propõe e o que Trump disse que fará em uma série de vídeos muito simples da “Agenda47” em seu site, expondo seus planos para um segundo mandato.
Em um vídeo da Agenda47, por exemplo, Trump promete ter uma ordem executiva preparada para acabar com a cidadania por direito de nascença para os filhos de imigrantes ilegais.
A 14ª Emenda da Constituição dos EUA garante a cidadania por direito de nascença, então é possível haver brigas judiciais se isso acontecer.
Um dos “maestros da política” do Protect 2025, Russell Vought, foi flagrado por uma câmera escondida por jornalistas disfarçados falando sobre uma agenda agressiva que ele estava escrevendo para dar início à nova administração de Trump em seus primeiros 180 dias.
Vought atuou como diretor do Escritório de Administração e Orçamento durante o primeiro mandato do republicano.
Deportações em massa
A promessa mais agressiva de Trump é a prisão e deportação de milhões de imigrantes ilegais. O republicano deve assumir o cargo com uma série de ordens executivas já escritas para restabelecer as políticas de fronteira desfeitas pelo governo Biden.
Esse “ioiô” da política de imigração dos EUA acontece tendo em vista que o Congresso não conseguiu aprovar uma reforma significativa sobre o assunto por décadas.
O que não está claro é como exatamente Trump fechará a fronteira dos Estados Unidos e se isso incluirá o Exército, a Guarda Nacional ou agências locais de aplicação da lei.
Stephen Miller, conselheiro de Trump, disse à Fox News que espera que as deportações comecem no momento em que Trump tomar posse, em 20 de janeiro de 2025.
“Elas começam no dia da posse, assim que ele fizer o juramento de posse”, destacou.
Mas ainda não está claro como as deportações funcionarão. O deputado Carlos Gimenez, um republicano da Flórida, disse a Pamela Brown, da CNN, nesta quinta-feira (7) que espera que todo imigrante ilegal continue tendo audiência antes de ser deportado.
Isso exigirá a contratação de um grande número de funcionários governamentais se as deportações forem ampliadas para uma escala massiva. O processo atual é longo.
“Eu concordo; será uma tarefa muito, muito grande. E minha esperança é, e espero, que simplesmente sigamos a lei”, pondera Gimenez.
Priscilla Alvarez, da CNN, relatou que já houve discussões entre aliados de Trump e alguns no setor privado para deter e deportar migrantes em grande escala — embora qualquer operação tenha um alto preço.
Ela observou que Tom Homan, que foi diretor interino da Imigração e Alfândega dos EUA durante o primeiro mandato de Trump, disse que um esforço de deportação começaria com qualquer pessoa acusada de um crime.
Não está claro o que aconteceria com os chamados “Dreamers”, pessoas trazidas para os EUA quando crianças e que viveram a maior parte de suas vidas no país.
Alguns deles são protegidos por um programa da era do governo Obama, o Deferred Action for Childhood Arrivals, que Trump tentou, sem sucesso, encerrar durante seu primeiro mandato.
Planos para demitir “agressivamente” funcionários do governo
No final de seu primeiro mandato, Trump planejou reclassificar uma grande parte da força de trabalho civil federal para facilitar a demissão de funcionários federais.
Comumente chamado de “Anexo F”, o plano do republicano era desfazer proteções de longa data para funcionários públicos apartidários.
O governo Biden colocou alguns obstáculos para evitar essa reclassificação, mas Trump promete em um vídeo da Agenda47 começar a trabalhar imediatamente para restabelecê-la para que ele possa “remover burocratas desonestos”.
Ele diz que também “limpará todos os atores corruptos” no aparato de segurança nacional e inteligência e “imediatamente” moverá agências federais para fora da capital do país.
John McEntee, que foi diretor do Gabinete de Pessoal Presidencial da Casa Branca durante o primeiro governo de Trump, trabalhou no Projeto 2025, construindo uma lista de pessoas leais a Trump adequadas para funções de administração.
Ele continua próximo de Trump, de acordo com apuração da CNN sobre a transição para o novo governo.
McEntee disse recentemente que não estava envolvido com as recomendações de políticas no Projeto 2025, embora tenha dito: “Eu concordo com a maioria delas”.
Em vez disso, ele está interessado em “‘equipar’ o presidente com pessoas boas… Acho que ele merece isso”.
E o Gabinete de Trump?
Conforme dito por Trump, Musk terá papel relacionado à eficiência do governo, mas provavelmente não terá uma posição no gabinete. Também não está certo se Kennedy terá uma posição no gabinete.
E a promessa de Trump em um comício na Geórgia de colocar Herschel Walker, ex-jogador da NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos, no comando de um programa de defesa antimísseis poderia significar um emprego oficial do governo para o candidato não eleito ao Senado.
Há 26 pessoas no gabinete do Presidente Joe Biden. Algumas, como diretor da CIA — a agência de inteligência dos Estados Unidos — ou a embaixadora dos EUA na ONU podem ser adicionadas ou subtraídas dependendo da administração.
Trump deve começar a nomear altos funcionários nos próximos dias. Na noite desta quinta-feira, o republicano nomeou Susie Wiles como chefe de gabinete da Casa Branca.
Durante o primeiro mandato do republicano, quatro pessoas passaram pela posição. A mais antiga delas, o general aposentado da Marinha John Kelly, alertou contra a eleição de Trump. Agora, o empresário busca pessoas mais leais.
A maioria dos cargos do Gabinete, como secretários de Defesa e Segurança Interna, exigirá confirmação do Senado. Trump terá uma maioria republicana no Senado, o que deve facilitar a confirmação de cargos-chave, mas cada um dos nomeados finais do Gabinete terá uma audiência de confirmação antes da votação.
Frustrado com a dificuldade de ter funcionários do Gabinete durante sua primeira administração, Trump frequentemente nomeava pessoas como secretários “interinos”, embora essas nomeações só possam ser feitas temporariamente.
O filho mais velho do presidente eleito, Donald Jr., disse à Fox News que o pai premiará a lealdade e procurará “pessoas que não acham que sabem mais do que o presidente devidamente eleito dos Estados Unidos”.
Tirando o poder do Congresso
Donald Trump não terá, sem apoio dos Democrata, os 60 votos no Senado de que precisa para aprovar rapidamente uma legislação abrangente no Congresso. Ainda não está claro se os republicanos manterão o controle da Câmara, mas qualquer maioria será pequena.
Um de seus grandes planos para desafiar as normas governamentais atuais que recebeu menos atenção é sua promessa de tomar algum poder sobre os gastos do governo do Congresso.
Em um vídeo da Agenda47, Trump diz que tentaria reafirmar o princípio de “apreensão”, pelo qual um presidente pode rejeitar instruções de gastos do Congresso e usar o dinheiro do contribuinte de outras maneiras.
O Congresso procurou “controlar” os presidentes com uma lei após o governo Nixon, mas Trump diz que irá contestá-la e dar mais poder ao presidente.