O presidente Bashar Assad renunciou e deixou a Síria, disse o ministério das Relações Exteriores da Rússia neste domingo (8). A queda do ditador de longa data deu-se após rebeldes que se opõem ao seu governo invadirem o país e tomarem o controle da capital em menos de duas semanas.
Veja em vídeo como está a Síria após a queda de Bashar al-Assad
A declaração do ministério das Relações Exteriores não ofereceu detalhes sobre o paradeiro exato de Assad, afirmando apenas que ele havia mantido conversas com “várias partes do conflito armado”.
Não houve comentário imediato da presidência síria sobre Assad.
A saída de Assad foi um momento histórico na história da Síria, que tem sido governada por sua família com mão de ferro desde o início da década de 1970. Isso marcou um avanço dramático para as facções rebeldes na Síria que tentam depor Assad há mais de uma década, grande parte do tempo marcada por uma devastadora guerra civil.
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Para muitos na Síria, a queda de Assad foi um momento de esperança, pois eles não temiam mais o regime que usou táticas opressivas para sufocar suas liberdades. Mas também estava repleto de incertezas sobre quem governará a Síria a seguir e levantou temores de um vácuo de poder em um país que tem sido dividido por facções competidoras lutando pelo controle de diferentes áreas de território.
“Nossos corações estão dançando de alegria”, disse Walaa Salameh, 35, uma residente da área de Damasco, em uma entrevista por telefone. “Não podemos prever o futuro, e tudo é possível, mas o mais importante é que nos livramos deste regime opressor.”
Mais cedo, no domingo, a principal coalizão rebelde, Hayat Tahrir al-Sham, havia anunciado em seu canal do Telegram que havia tomado a capital, Damasco, e que as forças sírias estavam se retirando. Mais tarde, disse que Assad havia caído e que Damasco estava “livre do tirano”.
Os eventos encerraram duas semanas surpreendentes em que a coalizão de grupos rebeldes, que havia sido confinada a um pequeno canto do noroeste da Síria, varreu as principais cidades do país, rompendo um impasse na guerra civil síria de 13 anos.
À medida que os relatos se espalhavam sobre tropas do governo sírio fugindo de seus postos e despindo uniformes, os sons de tiros eclodiram em Damasco antes do amanhecer de domingo, disseram testemunhas. Até o final da manhã, as ruas estavam em grande parte vazias, mas o som dos tiros ainda ecoava.
“Ninguém deve derramar lágrimas pela queda do regime de Assad”, disse Daniel B. Shapiro, vice-secretário assistente de defesa dos EUA para o Oriente Médio, em Bahrein, antes de o ministério das Relações Exteriores da Rússia emitir a declaração.
Em meio a perguntas sobre o paradeiro de Assad, o primeiro-ministro sírio, Mohammad Ghazi al-Jalali, disse que não havia falado com ele desde sábado. Ghazi afirmou que ficaria no país e estava pronto para trabalhar com quem os sírios escolhessem como seu líder.
Hayat Tahrir al-Sham disse que trabalharia com Ghazi e pediu às forças militares sírias em Damasco que ficassem longe das instituições públicas, que, segundo afirmou, permaneceriam sob a supervisão de Ghazi até serem formalmente entregues.
Quem são os rebeldes?
O chefe do grupo islamista que lidera a principal coalizão rebelde disse em uma entrevista ao New York Times na semana passada que os combatentes visam depor Assad.
Primeiro, os rebeldes tomaram a maior cidade da Síria, Aleppo, e depois, dias depois, avançaram por Hama e a estratégica cidade de Homs, a caminho da capital.
Seu grupo, Hayat Tahrir al-Sham, rompeu laços com a al-Qaeda em 2016, mas ainda é designado como uma organização terrorista pelos Estados Unidos.
Reação em Damasco
Três civis na capital disseram ao Times que ouviram tiros na cidade durante a noite. Não estava claro quem estava atirando. Um residente disse que os tiros pareciam celebrar o avanço dos rebeldes e que algumas pessoas estavam dançando nas ruas.
Em meio à celebração, os sírios também estavam de luto por tudo que perderam ao longo de 13 anos de guerra civil.
Aliados de Assad
Assad manteve as forças rebeldes afastadas por mais de uma década com o apoio militar do Irã e da Rússia. Mas nos últimos dias, Irã e Rússia pareciam estar se voltando para a diplomacia para preservar seus interesses no país, em vez de oferecer apoio militar significativo.
Prisioneiros libertados
À medida que os rebeldes avançavam, tomaram muitas das notórias prisões onde o regime de Assad prendeu, torturou e executou prisioneiros políticos por décadas.
Vídeos que surgem ao norte de Damasco mostram grupos de homens caminhando pelas ruas da cidade à noite, supostamente depois de serem libertados da Prisão de Sednaya, que os rebeldes tomaram, de acordo com monitores de guerra e os combatentes.
Refugiados olham para a terra natal
Alguns refugiados sírios ao redor do mundo estavam grudados nas notícias em busca de atualizações sobre se o regime de Assad havia caído. Muhammad al-Shammary, que fugiu dos subúrbios de Damasco para a Turquia em 2013, disse que esperava retornar ao país assim que fosse seguro e viável fazê-lo.
Ele não vê a maioria dos membros de sua família — incluindo irmãos e cunhados — há mais de uma década. Muitos refugiados sírios se resignaram a uma vida no exílio, disse Shammary, 44 anos. “Eles gravaram isso em nossas mentes: que eles governariam para sempre”, afirmou.
Instabilidade mais ampla
O exército de Israel disse que havia entrado em uma zona de amortecimento desmilitarizada em território que controla nas Colinas de Golã, adjacente à Síria.
O exército israelense, preocupado com o súbito aumento da instabilidade perto de suas fronteiras, disse que estava agindo para proteger os civis israelenses.
O Iraque reforçou sua fronteira com a Síria, de acordo com a Agência de Notícias Oficial do Iraque, que disse no domingo que a passagem de fronteira al-Qaim estava fechada.