A ata da reunião do Copom da semana passada, divulgada nesta terça-feira (6) trouxe a mensagem que “faltou” no comunicado pós decisão de manutenção dos juros, segundo análise de economistas.
Embora a piora, tanto do cenário doméstico como do internacional, tenha estado presente no comunicado da última quarta-feira (31), houve ressalvas por parte de especialistas do mercado sobre a ausência de um aviso mais enfático de uma possível alta da Selic. Ou seja, a comunicação foi ajustada hoje.
Pata o Itaú, a ata do Copom transmitiu a mensagem de que o comunicado não conseguiu: deixou claro que todo o comitê, e não apenas alguns membros, está pronto para elevar a taxa Selic caso persistam as tendências recentes das expectativas de inflação e da dinâmica cambial.
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O banco destacou em sua análise que o comitê reconheceu a clara deterioração das perspectivas de inflação, captada por suas projeções e por um balanço de riscos que, segundo vários membros do Copom, está inclinado para cima. “Em suma, a ata mostra um comitê que está pronto para subir, desde que a moeda permaneça onde está”, diz o Itaú.
O banco ressalva que, como o real deve se fortalecer nas próximas semanas, à medida que os mercados globais se acalmam, a previsão é que a Selic permanecerá em 10,50% ao ano, por enquanto. “Se o real não reagir, um ciclo de alta, a partir de setembro, se tornará inevitável”.
Na avaliação da XP, a ata teve um tom “hawkish” (duro) ao enfatizar que as projeções de inflação estão acima da meta tanto no cenário de referência, com as projeções do mercado para a taxa Selic, quanto no alternativo, com taxa Selic constante.
Embora não tenha concordado com essa visão, a XP lembra que a maioria dos participantes do mercado leu a declaração da semana passada como “dovish” (suave). “A ata esclareceu alguns pontos incertos do comunicado, como se o balanço de riscos era assimétrico ou não, e se o comitê consideraria aumentar as taxas. Em todos os casos, o esclarecimento foi para o lado ‘hawkish’”, diz a análise.
O cenário base da XP continua sendo de taxa Selic constante à frente, principalmente se a economia global de fato evoluir para uma recessão. “Mas, como escrevemos em nossa nota de reação ao comunicado da semana passada, a chance de algum aperto monetário à frente está aumentando. A ata de hoje reforçou essa visão”, alerta.
Cenário interno e externo
Para Tatiana Pinheiro, economista chefe da Galapagos Capital, a comunicação da ata foi bastante dura, com o BC assumiu a existência de riscos assimétricos para cima no cenário de inflação. “E conclui que o processo de desinflação arrefeceu, tornando a convergência da inflação à meta desafiadora”, destaca.
A economista mantém a projeção de Selic estável em 10,50% até dezembro de 2024, mas diz acreditar que a decisão monetária de 18 de setembro dependerá particularmente do comportamento da taxa de câmbio até lá.
Carla Argenta, economista chefe da CM Capital, por sua vez, afirma que o Copom reforçou os pontos expressos no comunicado e jogou luz sobre alguns elementos que foram modificados e trouxeram dúvidas adicionais para o mercado.
“No que concerne ao cenário externo, apesar da desaceleração da atividade, da inflação global e do início do ciclo de queda dos juros em algumas regiões desenvolvidas, o processo de distensão monetária tem sido mais lento e marcado por uma falta de sincronia, situação que eleva a aversão ao risco e pressionam as taxas de câmbio ao redor do mundo demandando cautela por parte do Comitê”, comenta.
Ela destaca que os elementos mais destoantes estão concentrados na esfera doméstica, como a percepção de que o nível de atividade permanece inalterado, pautada por um dinamismo maior da economia, a desancoragem mais acentuada das expectativas inflacionárias para o horizonte relevante e a necessidade de um condução da política fiscal comprometida com a busca incessante por uma melhor condição das contas públicas.
Carla Argenta destaca especialmente a primeira menção do BC sobre a possibilidade de elevação dos juros, o que não só afasta em definitivo apostas quedas adicionais na taxa de juros por ora, mas que que deve alterar substancialmente as expectativas de mercado para a condução da política monetária ao longo dos próximos meses.
Rafaela Vitória, economista chefe do Inter, também destaca o tom “hawkish” quando mencionada a possibilidade de uma Selic mais alta, mas afirma que os sinais foram mistos no decorrer da ata.
“A mensagem acaba trazendo mais ruído para os agentes de mercado considerando a atual discrepância entre o que está precificado na curva de juros – a possibilidade de até 3 altas consecutivas nas reuniões em 2024 – versus o que é coletado na pesquisa Focus, a manutenção da Selic.”
Ela destaca ainda que o câmbio parece ser a variável mais importante para monitorar e deve definir os próximos passos da política monetária. “Com a recente mudança no cenário e perspectiva de cortes maiores pelo Fed, o câmbio pode ter alguma acomodação e retirar eventual pressão adicional nas expectativas de inflação, levando ao cenário de manutenção da Selic”, afirma. “Uma alta dos juros seria considerada, no entanto, em uma piora do cenário e nova deterioração na evolução da inflação”, conclui.