(Bloomberg) — Quando se trata das intenções liberais de Jair Bolsonaro, líder das pesquisas nos cenários sem o ex-presidente Lula, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco tem sérias ressalvas.
Um dos esforços do capitão da reserva é conquistar o mercado: a convocação do economista Paulo Guedes para integrar sua equipe econômica foi um desses acenos a fim de se livrar do rótulo de “nacionalista”. “É mais uma jogada oportunista, pois não creio que Bolsonaro tenha nenhuma afinidade com agendas pró-mercado”, disse Franco em entrevista à Bloomberg. “E, a julgar pelas pesquisas de agora, o risco de vitória desse populismo nacionalista militarista é ponderável e preocupante. Acho que será péssimo para a economia”, afirmou ele.
Franco deixou o PSDB no ano passado para se filiar ao partido Novo e assumir a coordenação do programa do presidenciável João Amoêdo, um banqueiro que advoga o enxugamento do Estado e mais empreendedorismo. “Amoêdo pode ocupar espaço significativo do eleitorado interessado em reformas pró-mercado, é quem carrega essa agenda de forma mais orgânica e legítima”, disse Franco sobre o candidato.
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Franco vê reforma na agenda fiscal e abertura comercial como medidas-chave para o presidente eleito em 2018. “O primeiro conjunto conta com reformas na Previdência — transformando o FGTS em fundo de pensão em regime de capitalização — e no Estado, com vistas a novas políticas de pessoal, e a privatização”, disse. No segundo, “medidas de abertura comercial, concorrência e melhor ambiente de negócios, incluindo o aprofundamento da reforma trabalhista.”
Economia
O economista considera natural a discreta recuperação econômica, com índices de atividade menores que o esperado. Em 2017, o Brasil teve crescimento de 1% no PIB após dois anos de recessão.
“É normal diante das incertezas à frente e pela falta de convicção reformista, ou mesmo de capacidade de execução de reformas desse governo. É um governo de transição, que já fez muito em reverter tendências suicidas criadas pelo mecanismo da Nova Matriz”, disse.
Em meio à modesta retomada, nem — pelo menos até agora — os 7,75 pp. de cortes na Selic surtiram efeito. O Copom, entretanto, projeta ainda mais alívio em maio e “parada para observar” em junho. “O BC tem trabalhado muito bem na fixação da Selic e está começando bem o trabalho no plano regulatório de reduzir o spread bancário e o custo do crédito. Mas há ainda muito a fazer”, disse Franco, presidente do BC de 1997 a 1999.
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Um dos pais do Plano Real, ele pondera riscos de possível depreciação cambial e não vê razão para intervenção. “Pode haver alguma desestabilização sim, se o mercado não gostar dos rumos das pesquisas”, disse ele. “Não vejo no horizonte nenhuma razão para qualquer ação extraordinária do BCB. Talvez o mercado não esteja enxergando bem os riscos de certas candidaturas, mas isso logo se corrige.”
Para ele, não há também nenhuma pressão inflacionária que afete o atual quadro benigno, exceto as que possam advir da complacência com a política fiscal. “Os mercados confiam que a equipe do Ministério da Fazenda evitará uma piora dos números fiscais, mas fazer voltar o superávit parece fora do seu alcance.”