O risco da economia brasileira entrar em dominância fiscal cresceu no radar do mercado, sobretudo com a piora das expectativas após a apresentação do pacote fiscal e reforma do Imposto de Renda (IR) pelo governo federal, no fim de novembro.
O termo significa que a política fiscal começa a ter dominância sobre a atuação da política monetária do Banco Central (BC) nos rumos da inflação, ou seja, a alta dos juros já começa a ser ineficiente para reduzir a variação de preços.
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Para Leonardo Porto, economista-chefe do Citi, o Brasil ainda não chegou neste estágio, apesar de reconhecer que os esforços do BC para segurar a inflação estão perdendo eficácia.
Ele afasta o cenário de dominância fiscal ao apontar para as expectativas dos analistas, medida pelo Boletim Focus, de que a alta dos juros vai trazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para próximo da meta nos próximos anos.
“Quando não tem choques acontecendo, como no câmbio, isso sugere que a gente não está em dominância fiscal”, disse Porto nesta terça-feira (10).
O economista-chefe, porém, pondera que a força da alta dos juros para segurar a inflação está perdendo tração.
“O canal de transmissão da política monetária através do canal de expectativas está operando com ‘menos óleo no maquinário’, está menos fluído”.
Inflação longe da meta
As projeções do Citi apontam para novos aumentos dos juros até o patamar de 13,25% em março do próximo ano, recuando a 10,5% ao fim de 2026.
Pela trajetória prevista, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deve subir os juros em 0,75 ponto no encontro desta quarta (11) e repetir a dose em janeiro, a primeira reunião de 2025.
Já em março, a expectativa é de um último aumento de 0,5 ponto.
Segundo Porto, a política monetária mais restritiva se justifica pela desancoragem das expectativas para a inflação pelo mercado financeiro.
O Citi prevê que o IPCA encerre este ano em 4,8% — acima do teto máximo perseguido pelo BC —, recuando para 4,3% e 3,7% em 2025 e 2026, respectivamente.
“O BC tem que fazer o trabalho dele. Apesar de a natureza do problema ser mais fiscal, o BC não pode abdicar seu trabalho, porque o problema fiscal pode virar uma desancoragem monetária”, disse Porto.
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