O impasse envolvendo o Corinthians e sua patrocinadora master, a Esportes da Sorte, que não entrou na lista de casas de apostas autorizadas pelo Ministério da Fazenda a operar no país, segue dando o que falar.
Com um contrato de patrocínio de R$ 309 milhões por três anos, parte desses milhões foi direcionada para a contratação midiática do jogador holandês Memphis Depay. O problema é que caso a Esportes da Sorte deixe de operar no país nos próximos dias – caso não regularize sua situação conforme a regulamentação das bets estabelecida pelo governo federal – o Corinthians não poderá mais contar com a empresa para custear o alto salário do jogador.
Uma das opções para o clube seria contratar um seguro para arcar com as despesas com Depay caso houvesse impedimento por parte da bet, mas a sugestão foi recusada pela diretoria, segundo noticiou o UOL.
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“A decisão do Corinthians de não contratar um seguro para garantir o pagamento do salário do jogador Memphis Depay evidencia os entraves para a contratação de seguros desse tipo no Brasil”, aponta Liciane Luz, corretora de seguros que atua no ramo esportivo. Segundo ela, “as seguradoras nacionais mostram resistência em assumir riscos elevados, especialmente em contratos de alto valor, devido à limitação das coberturas, que se concentram em invalidez e morte, deixando lacunas em relação à incapacidade temporária e à perda de receita de patrocínio”, continua a especialista.
Liciane acredita que falta compreensão sobre a importância de seguros mais abrangentes, o que leva os clubes a não verem esses produtos como ferramentas estratégicas. A complexidade das negociações e a ausência de produtos personalizados também são vistos como entraves.
“Assim, a limitação na oferta de seguros adequados faz com que clubes como o Corinthians assumam riscos financeiros significativos, comprometendo sua competitividade e segurança financeira”, complementa a corretora.
Como funciona
De forma geral, Liciane conta que os seguros adquiridos pelos clubes de futebol para seus atletas cobrem diversas situações, mas também possuem limitações. Em geral, as coberturas mais comuns incluem:
- Morte: indeniza os beneficiários legais em caso de falecimento do atleta,
- Invalidez permanente: garante um pagamento em caso de invalidez laborativa permanente total por acidente, proporcionando compensação financeira ao atleta ou aos seus dependentes.
Por outro lado, existem exclusões importantes. “Não há cobertura para diárias de incapacidade temporária, o que significa que os clubes não são indenizados durante o período em que um atleta está temporariamente incapaz de atuar”, conta a especialista. Além disso, de forma geral também não são cobertas pelas seguradoras as situações que englobam comportamentos considerados de risco, como a prática de esportes radicais, assim como lesões ocorridas enquanto o atleta estiver envolvido em atividades ilegais ou ilícitas.
Quanto custa
Sobre o custo para a aquisição do seguro, Liciane explica que geralmente é proporcional ao salário dos jogadores, pois o valor da cobertura costuma ser calculado com base em múltiplos salariais.
“Quanto maior o salário do atleta, maior será o capital segurado [valor máximo que o segurado ou seus beneficiários podem receber de indenização na ocorrência dos riscos previstos no contrato] e, consequentemente, maior o prêmio do seguro [valor pago à seguradora para adquirir o seguro]”, diz a especialista.
De acordo com a corretora, outros fatores também influenciam no custo, como:
- perfil do jogador,
- idade,
- histórico de lesões,
- histórico de saúde,
- tipo de cobertura contratada (morte, invalidez permanente, entre outros).
Todos esses fatores também são analisados, explica Liciane, pois atletas mais velhos ou com histórico de lesões podem gerar um custo de aquisição do seguro mais alto devido ao risco aumentado. Por outro lado, diz a corretora, a exposição midiática e a fama do atleta não têm influência na precificação do seguro. “As seguradoras se concentram mais nas condições pessoais e profissionais do jogador do que na sua popularidade”, aponta.
Na análise de Liciane, há uma maior conscientização sobre a importância da proteção jurídica e financeira no esporte, até por conta de exigências legais, como a Lei Geral do Esporte (Lei nº 9.615/1998), que determina a contratação de seguro de vida e acidentes pessoais para os atletas. “Nas negociações corriqueiras no futebol, também é comum que, em contratos de cessão temporária ou pré-contratos, sejam necessárias garantias aos clubes em caso de perda do atleta devido a morte ou invalidez”, ressalta a corretora.
O fato é que ainda há um longo caminho a ser percorrido pelos clubes brasileiros se comparado ao que já ocorre em outros países. No exterior, por exemplo, muitos contratos incluem proteção contra perda de receita devido a lesões e seguros de imagem, garantindo compensações financeiras em caso de diminuição na capacidade do jogador de gerar receita por meio de patrocínios, conta Liciane.
Além disso, é comum que as apólices abranjam tanto lesões quanto a performance dos jogadores, permitindo compensações por ausências em competições importantes. “Nos EUA, por exemplo, muitos times protegem seus investimentos em jogadores com seguros que cobrem salários e os impactos financeiros decorrentes da presença do atleta em campo”, exemplifica.