Os fundos de investimentos nas cadeias produtivas agroindustriais (Fiagros) tiveram um excelente 2023, mas começaram 2024 abalados por sua primeira crise, com inadimplência em algumas operações de crédito. Agora, analistas acreditam que o pior já passou, e que o setor ensaia uma recuperação capaz de reabrir a janela de oportunidade para investimento com bons retornos.
Para Fernando Siqueira, analista da Guide, um dos gatilhos que devem melhorar a situação dos produtores e, consequentemente, dos fundos, é a depreciação do real, que amenizou nos últimos dias, mas ainda é relevante no ano, acumulando perda de 12,8% frente ao dólar.
“O nível mais baixo do real é positivo para os produtores agrícolas, visto que a maioria é de exportadores e um dos riscos que vinha pressionando os Fiagros era o baixo preço dos produtos, o que aumentava a chance de inadimplência”, diz Siqueira.
Segundo o analista, apesar de os preços da soja e do açúcar ainda estarem baixos em dólar, os preços em real aumentaram em 2024 até agora. O mesmo se aplica a outras commodities, o que melhora as perspectivas de receita do setor.
Embora os casos de inadimplência dos Fiagros tenham prejudicado a percepção dos investidores sobre o setor, Vitor Duarte, diretor de investimentos da Suno, avalia que foram casos pontuais e que a quantidade de fundos que apresentaram problemas é baixa.
“Tem mais Fiagros bons do que com problemas. O mercado vai perceber que não foi aquele show de horrores todo e avaliar melhor quais são os riscos do agronegócio”, reforça.
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Outro chamariz que deve ajudar nessa percepção do mercado é a mudança nas projeções da taxa de juros. Siqueira avalia que a manutenção da Selic em 10,50% já tinha sido positiva, mas que a chance de elevação para 12% é ainda melhor.
“Os Fiagros são majoritariamente indexados ao CDI e a queda da Selic representava uma redução no potencial de retorno destes fundos. Com a Selic alta, as taxas das carteiras estão bem elevadas”, afirma o analista da Guide.
Um levantamento feito pela corretora mostra que as taxas das carteiras dos Fiagros rondam os 14% ao ano, o que significa um retorno equivalente a CDI + 4% (considerando a Selic em 10,5%).
Os ganhos são superiores aos dos fundos imobiliários e fundos de infraestrutura, dois ativos que normalmente são comparados aos Fiagros. Além disso, diz Siqueira, a taxa efetiva é ainda mais alta porque a maior parte dos Fiagros está negociando abaixo do valor patrimonial.
Confira o dividend yield dos principais Fiagros:
Olhar atento
Duarte acredita que os proventos mensais dos Fiagros são um atrativo importante para os investidores, mas que exige um olhar atento para não ser o único fator considerado no momento de escolher o fundo.
“Os Fiagros surgiram com rendimentos muito altos, na sequência de um momento em que os fundos imobiliários estavam pagando muito durante a pandemia. Mas o investidor tem que desconfiar desses valores”, diz o CIO da Suno Asset.
Proventos muito altos indicam alavancagem, segundo o executivo, e um potencial risco de inadimplência. Para ele, se a média é CDI + 4%, um CDI + 6% é arriscado, já deve levantar suspeitas.
Embora o juro alto seja positivo para os dividendos, ele dificulta a tomada de crédito pelo produtor e aumenta os riscos de inadimplência. Duarte diz que isso também deve ser levado em consideração na escolha do Fiagro.
A taxa de crédito tomada pelos produtores deve ser sinalizada nos relatórios gerenciais mensais, assim como a classificação de risco da operação. Outro fator que pode ajudar o investidor a avaliar o risco é a posição do fundo, se é high yield (inclinado a risco para oferecer rendimentos maiores) ou high grade (focado em qualidade, mas com retorno menor).
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