SÃO PAULO (Reuters) – As taxas dos DIs dispararam nesta quarta-feira, com altas de mais de 40 pontos-base para alguns contratos, à medida que os investidores demonstravam receios com o cenário fiscal do país, apesar do avanço das medidas de contenção de gastos do governo no Congresso.
No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 estava em 15,445%, ante 15,07% no ajuste anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2027 marcava 15,89%, com alta de 48 pontos-base ante o ajuste anterior de 15,408%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2029 estava em 15,545%, em alta de 43 pontos ante os 15,115% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2031 tinha taxa de 15,19%, ante os 14,792% da terça-feira.
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A abertura da sessão desta quarta-feira contou com novas notícias sobre a tramitação do pacote fiscal do governo no radar, o que na véspera tinha fornecido algum alívio para as taxas de juros futuras no longo prazo.
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A Câmara dos Deputados aprovou na noite de terça-feira o texto-base do projeto que impõe travas para o crescimento de despesas com pessoal e incentivos tributários no caso de déficit primário — o Projeto de Lei Complementar 210, que faz parte do pacote fiscal.
Segundo o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), os outros dois textos que compõem o pacote do governo — um projeto de lei e uma Proposta de Emenda à Constituição — devem ser analisados pelo plenário ainda nesta quarta-feira.
As notícias, no entanto, não geravam neste pregão o impulso necessário para derrubar os prêmios de risco do país, com os contratos para todos os prazos voltando a registrar altas expressivas nas taxas.
Por trás do pessimismo do mercado está uma enorme desconfiança no compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas, com analistas afirmando que o pacote fiscal não seria suficiente para enfrentar uma crise de credibilidade do Executivo.
“A aprovação do pacote no Congresso é, sem dúvida, bem-vinda, mas há um grande receio em relação ao desconhecido, especialmente quanto à efetividade dos cortes e ao compromisso fiscal para 2025”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank
“O governo precisa reconquistar a confiança do mercado, o que não será fácil e provavelmente não ocorrerá tão cedo. A barra para decepções é baixa. Ninguém quer estar do lado errado do jogo”, completou.
No curto prazo, investidores seguem reajustando as posições diante da projeção de um aperto mais agressivo nos juros, após o Copom ter elevado a taxa Selic em 1 ponto percentual na semana passada e sinalizado mais dois aumentos da mesma magnitude no próximo ano.
Operadores estão precificando 70% de chance de o Copom elevar a taxa básica de juros — hoje em 12,25% ao ano — em 1,5 ponto, contra 30% de probabilidade de um aumento de 1,25 ponto, em sua próxima reunião em janeiro.
Em meio às fortes altas recentes nas taxas dos DIs, o Tesouro Nacional realizou a recompra de 400.000 títulos públicos nesta quarta e deixou de vender novos títulos da dívida, tendo já cancelado na véspera o leilão tradicional de títulos anteriormente programado para quinta-feira.
O movimento do Tesouro, entretanto, não aliviou a disparada das taxas futuras.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse mais cedo que o Tesouro e o Banco Central, que não interviu no mercado pela primeira vez desde quarta-feira, seguirão coibindo eventuais movimentos especulativos.
No cenário externo, os mercados globais reagiam à decisão do Fed de reduzir a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, com o foco em torno das novas projeções das autoridades, que agora veem um afrouxamento monetário menor no próximo ano.
O rendimento do Treasury de dois anos — que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo — tinha alta de 9 pontos-base, a 4,331%.