SÃO PAULO – A escalada das tensões na Ucrânia e na Rússia, que levou à anexação da Crimeia pelos russos nesta semana, aumentou os rumores de que uma Guerra Fria estaria perto de acontecer. Isso porque, se de um lado estaria a Rússia, do outro estaria os Estados Unidos que, assim como no período após a 2ª Guerra Mundial, segue como o grande pólo mundial, mesmo que esteja se enfraquecendo.
Mesmo com boa parte dos analistas políticos afastando a possibilidade de uma reedição da Guerra Fria, a escalada das tensões entre estas duas grandes nações já causaram muita turbulência no mercado e pode ter consequências bastante expressivas não só para os dois países.
Para aqueles que acreditam que haverá uma reedição da Guerra Fria por vir, as consequências econômicas são bastante fortes, conforme ressalta agência de notícias americana Market Watch. A economia europeia pode ter um novo baque. Isso porque, se a economia russa não é um enorme sucesso e está totalmente dependente de recursos naturais, ela é a oitava maior economia do mundo e tem uma forte ligação com a Europa.
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O comércio entre os russos e a União Europeia cresceram de US$ 90 bilhões para US$ 335 bilhões em apenas dez anos, ajudando a economia europeia em um momento em que ela ainda está enfraquecida. Ainda sobre a Europa, a economia do continente é crucialmente dependente do óleo e do gás russos. Cerca de 40% do gás da Alemanha e 50% da Áustria vem dos gasodutos que passam pela Rússia. Sanções não significariam nada se não fosse a questão energética.
Com isso, a economia do país pode declinar ainda mais: como ressalta o Market Watch, o presidente Vladimir Putin não tem feito nada para a economia russa, contando apenas com os recursos naturais controlados para manter o país em evidência. O crescimento estimado para este ano é de 1,5% – o que não é suficiente para um mercado emergente.
As sanções contra a Rússia só podem piorar a situação do país, com menos empresas estrangeiras querendo investir lá nos próximos anos. Isso não deve ser ruim só para a nação, mas o enfraquecimento de países líderes dos emergentes como a Rússia pode criar ainda mais confusão. E os países pobres são mais instáveis, o que deve levar a mais problemas pela frente. Além disso, em um mundo tenso e dividido, o dinheiro não flui tão facilmente como em uma situação geopolítica mais pacífica.
Assim, dentre os que acreditam que haverá mesmo uma Guerra Fria, a expectativa é de que rivalidades políticas antigas voltem à tona, o que pode aumentar ainda mais as tensões pelo mundo.
Mesmo sem nova Guerra Fria, há riscos
Porém, há aqueles que não veem nem de perto uma reedição da Guerra Fria e um dos principais personagens – Vladimir Putin -, não é nem um pouco parecido com uma das figuras da 2ª Guerra Mundial, Adolf Hitler. Hillary Clinton, no começo de março, comparou os dois estadistas, destacando que “Putin estaria agindo como Hitler antes da Segunda Guerra Mundial” ao anexar territórios e defender o “seu povo” em regiões fora das suas fronteiras.
E, como ressalta o colunista Rex Nutting, também do Market Watch, Putin certamente não é como Hitler e, se fosse para ser parecido com alguém, seria mais parecido com Benito Mussolini, que “gostava de invadir territórios pequenos e indefesos”. E o peso das tensões entre o Ocidente e a Rússia não chegam nem de perto a ser como o da Guerra Fria, que tinham ideologias diametralmente opostos, mas ambos com forças bastante equiparadas e enormes.
Atualmente, o que se vê é uma Rússia enfraquecida, sem forças política, econômica e militar que se equivala ao Ocidente. Ao invés de liderar um movimento comunista mundial que teria bilhões de pessoas aderindo, temos uma Rússia que se destaca hoje mais pelo seu nacionalismo.
“Isso não quer dizer que a Rússia não seja perigosa. Ninguém deve subestimar a natureza agressiva de um urso acuado, especialmente munido de armas nucleares. Mas a Rússia está encurralada e as suas ambições foram reduzidas ante a anterior ideia de dominação global”, afirma Nutting. Enquanto isso, o Ocidente está cada vez mais forte.
Quando houve o Pacto de Varsóvia, tanto a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Forte) quanto a força militar da União Soviética estavam equiparadas. Mas, agora, a OTAN gasta onze vezes mais que as forças russas. Assim, o envelhecimento militar fez a Rússia virar apenas uma sombra do que era a União Soviética na Guerra Fria.
“A crise da Ucrânia é real. Ela ameaça a paz e a estabilidade da região. Ela ameaça a economia da Europa e da Rússia. Mas não é um conflito global que vai durar duas gerações”, afirma. Assim, mesmo gerando grandes expectativas e tensões no mercado, não é nada que se equipare à uma nova Guerra Mundial ou Guerra Fria, assim como os seus impactos não devem ser tão significativos.
Entenda a crise na Ucrânia:
Fonte: Agência Brasil