O Produto Interno Bruto (PIB) potencial do Brasil, ou seja, a capacidade de crescimento da oferta de nossa economia sem causar pressões inflacionárias, já é maior que o estimado pela maior parte dos economistas? Essa pergunta tem sido feita desde que o IBGE divulgou em setembro os dados das Contas Nacionais, que mostraram um crescimento de 1,2% do PIB no segundo trimestre de 2022, mais uma vez acima das projeções do mercado.
Desde então, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem batido na tecla de que os modelos usados pelos economistas estão defasados ou então que há uma tendência política antigovernista nas projeções.
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No início de novembro, uma Nota Informativa da Secretaria de Política Econômica (SPE) no Ministério sugeriu que já existem indícios em vários indicadores econômicos de que houve alteração na tendência de crescimento do PIB brasileiro.
Entre os fatores apontados estão o fato de que o crescimento anualizado da economia nos últimos trimestres está em patamar não observado, exceto em períodos de retomada após recessões. A recuperação da taxa de investimento e a melhor alocação do emprego, com evolução das vagas formais e pela contribuição cada vez maior do setor de serviços – que tem melhor produtividade por trabalhador – também foram citadas.
Um recente relatório XP Macro Especial, assinado pelo economista Rodolfo Margato, se propôs a avaliar essas suposições e concluiu que sim, o PIB potencial do Brasil já experimentou uma melhora estrutural e, nas condições atuais, a capacidade de expansão anual está de 1,8%. A título de comparação, Margato diz que as estimativas para o período 2018-2019 apontaram para crescimento econômico potencial ao redor de 1,1%.
Margato admite que parte da evolução recente por estar relacionada a questões conjunturais, mas que é evidente que já houve alterações mais profundas. “Temos que esperar para ver o que é recuperação cíclica, que não é necessariamente um ganho estrutural, mas na nossa leitura talvez seja uma combinação”, afirmou.
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Taxa de investimento
Rafaela Vitoria, economista chefe do Banco Inter, também acredita que há indícios de que a economia brasileira tenha um potencial de crescimento maior, como já se viu nos últimos seis trimestres. “Dois fatores trouxeram boas notícias de crescimento no último ano e meio: um foi o setor de serviços, crescendo a uma taxa mais acelerada do que a gente esperava. O outro ponto é a volta do investimento”, afirma.
Nesse último ponto, Rafaela lembra que houve crescimento tanto na construção civil quanto em máquinas e equipamentos. Para ele, alguma parte disso está ligada ao ciclo de preços de commodities mais altos, mas também há uma contribuição dos ganhos com os recentes marcos regulatórios, dos leilões de concessões e da expansão natural do setor elétrico.
O relatório da XP usa como um dos indícios do maior potencial do PIB exatamente a elevação do estoque líquido de capital, que voltou a crescer em 2021 após mais de três anos em trajetória de queda. A taxa de investimento – a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em relação ao PIB total – aumentou de aproximadamente 15,5% do PIB em 2019 para cerca de 19% do PIB em 2021.
Segundo o estudo, a política monetária expansionista nos últimos dois anos permitiu um crescimento acentuado tanto do consumo aparente de bens de capital quanto da construção civil, em que pese alguma influência da mudança de preços relativos sobre a taxa de investimento.
Mesmo admitindo que o novo momento de condições monetárias restritivas tende a reduzir esse consumo de bens de capital nos trimestres à frente, o relatório afirma ser factível que a taxa de investimento atinja cerca de 18% do PIB num cenário de longo prazo.
“Essa expectativa se baseia em avanços importantes observados nos últimos anos, como o aprofundamento do mercado de capitais e a modernização de marcos regulatórios que atraem investimentos para setores de infraestrutura”, diz o texto.
A Nota Informativa da SPE trouxe uma linha do tempo sobre essas reformas macro e microeconômicas implementadas desde 2019 e que trouxeram ganhos no ambiente de negócios, como Cita-se como exemplo o Novo Marco do Saneamento, o Marco do Gás, a Lei das Estatais, a redução em 20% da Tarifa Externa Comum (TEC) e a redução do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), que elevava o custo para as importações.
Erros de projeções
Por que isso não foi antecipado pelos analistas? Margato não concorda que os modelos utilizados estejam defasados, mas admite que algumas premissas podem não ter sido desenhadas da melhor forma. “Uma hipótese é que alguns fatores tenham sido desconsiderados, como algum algum impacto da Reforma Trabalhista, além do efeito macroeconômico dos marcos regulatórios em setores onde é difícil de extrair impactos”, afirma.
“A gente errou sim. Os modelos não capturaram esse crescimento maior. Mesmo quando considera um cenário conjuntural favorável de commodities, setores específicos internos cresceram mais que o esperado”, concorda Rafaela.
Reforma Tributária
Para que esses ganhos dos últimos anos sejam mantidos, Rodolfo Margato e Rafaela Vitória defendem a continuidade da agenda de reformas, com a Reforma Tributária despontando como a mais importante. Para a economista chefe do Banco Inter, a proposta atual de simplificação tributária tem um benefício qualitativo. “Ela poderia trazer muitos benefícios para o setor produtivo, inclusive de potencial de PIB”, prevê.
“É o fator que pode fazer o País crescer de forma mais relevante. Nosso sistema é o mais complexo do mundo”, concorda o economista da XP.