SÃO PAULO – Para convencerem os estrangeiros a investir no Brasil, os gestores brasileiros de fundos costumam dizer que o país tem um enorme mercado consumidor de 200 milhões de pessoas, está em um momento de demografia favorável em que cresce o número de trabalhadores economicamente ativos, possui riquezas naturais abundantes e ainda se beneficia dos preços favoráveis das commodities. Mas por que, afinal, o PIB praticamente parou de crescer nos últimos três anos e voltamos a ser encarados pela mídia internacional como o eterno país do futuro? Ainda que a conjuntura internacional já não seja tão favorável quanto na década passada, fica cada dia mais claro que a economia não deslancha devido a nossos próprios erros.
Para chegar a essa conclusão, basta olhar para os lados. Países latino-americanos como a Colômbia, o Chile, o Peru, o México e até mesmo o Paraguai têm conseguido sustentar taxas de crescimento bem mais elevadas que a brasileira, sem perder o controle sobre os preços. O que une esse grupo de países é uma política econômica aberta, ortodoxa e liberal, bastante distante do intervencionismo que foi colocado em prática na Argentina, na Venezuela e, em determinados momentos, também no Brasil.
O caso colombiano é emblemático. Além dos desafios econômicos, até a década passada o país vizinho também enfrentava problemas na área de segurança, com o narcotráfico, a guerrilha e a presença de tropas americanas. De acordo com Isabella Muñoz, diretora-executiva da ColCapital (Associação Colombiana de Fundos de Private Equity), a boa fase da Colômbia começou no governo de Álvaro Uribe, a partir de 2002. “Uribe mudou o país porque trabalhou fortemente no que mais o impedia de crescer: a violência. Ele fez um trabalho espetacular em prol da segurança nacional”, afirmou.
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O ex-presidente foi o primeiro a ser eleito em primeiro turno desde a Constituição de 1991. Sua decisão de combater as Farc alcançou um índice de aprovação popular de 95% e lhe permitiu se reeleger em 2006 – após uma mudança da Constituição. “Uribe também trabalhou muito em mostrar e abrir a Colômbia para o mundo. Ele assinou muitos tratados [comerciais] que ajudaram nossa relação com outros países”, explicou Isabella. “Antes dele, éramos muito mais fechados.” Outra de suas iniciativas foi fortalecer a Proexport Colômbia, um órgão do Poder Executivo encarregado de promover o turismo e o investimento estrangeiro no país.
O atual presidente, Juan Manuel Santos, que era ministro da Defesa de Uribe e o sucedeu em 2010, decidiu concentrar seus esforços na economia. “O que fez a Colômbia ficar atrativa para os estrangeiros, como é hoje, não foi a gestão Uribe nem a gestão Santos, mas o fato de elas terem vindo uma na sequência da outra. Uribe, advogado, acabou com a violência e arrumou a casa. Santos, economista, fez a gente crescer mais que os outros países, alcançou uma impressionante estabilidade macroeconômica e deixou todas as taxas, como inflação, juros e desemprego, em níveis muito bons”, afirma a executiva. Santos já anunciou que tentará se reeleger em 2014 e aparece como favorito nas pesquisas de intenção de voto.
A estabilidade econômica conquistada permitiu que o país aproveitasse me-lhor algumas de suas vocações. Os setores de agricultura, turismo, exploração de recursos naturais e tecnologia deram um salto de qualidade na última década, assim como o empreendedorismo. A localização é um dos principais pontos fortes da Colômbia, na visão dos estrangeiros. O país é o único da América do Sul banhado pelos oceanos Atlântico e Pacífico, além de fazer fronteira com Venezuela, Brasil, Peru, Equador e Panamá e estar próximo da América do Norte.
Brasil x Colômbia
Já o governo brasileiro é visto com desconfiança pelos empresários. O excesso de intervenções nas empresas – seja no setor elétrico, na Petrobras ou nos bancos – deixou os empreendedores mais apreensivos com o futuro e é apontado como responsável por impedir que os investimentos deslanchem e permitam que o Brasil volte a crescer forte sem desequilíbrios, como a inflação. O país demorou em começar a realizar concessões na área de infraestrutura, que poderiam aumentar a produtividade das empresas. E como paralelamente a isso há enormes incentivos ao consumo, o Banco Central tem sido obrigado a elevar as taxas de juros para manter os preços sob controle.
O cenário macroeconômico complicado tem feito com que os investidores busquem outros países latino-americanos mais competitivos – ainda que eles não tenham um mercado consumidor tão atrativo. O Brasil possui um PIB de US$ 2,253 trilhões, enquanto o da Colômbia é de US$ 370 bilhões. No entanto, em 2013, enquanto o maior país da América do Sul cresceu 2,3%, a Colômbia registrou uma expansão de 4,3%. Outros fatos que devem ser levados em consideração são a taxa de juros e o índice de inflação. Na Colômbia, essas taxas são de 3,25% e 2%, que muito se diferem do Brasil, que atualmente apresenta uma Selic de 11% ao ano, com uma inflação de 6,15% (até 09/04), acima do centro da meta de 4,5% ao ano em 12 meses, estipulada pelo governo, e beirando o teto da meta, de 6,5%.
De acordo com pesquisas divulgadas pela Proexport Colombia, o país tem apresentado regularidade no crescimento econômico nos últimos anos. As previsões continuam otimistas para o médio prazo. Segundo estudo do FMI (Fundo Monetário Internacional), o PIB da Colômbia deve alcançar US$ 500 bilhões até 2018, ficando atrás apenas do Brasil e da Argentina na América do Sul.
Segundo Tony Volpon, diretor executivo e chefe de pesquisas para Mercados Emergentes das Américas da Nomura Securities International, em Nova York, esse crescimento que a Colômbia teve em 2013 deve se manter nos próximos anos. “No entanto, reconhecemos que existem alguns riscos, como o de uma reversão em termos de consumo, o que apresentaria uma séria ameaça ao crescimento econômico; a sustentabilidade da produção de petróleo, que é altamente dependente do sucesso de estudos geológicos atuais, que são realizados pelo governo em áreas novas e inexploradas; e a dependência da produtividade econômica com o sucesso da próxima onda de desenvolvimento de infraestrutura, que está marcada para começar neste ano”, afirmou ele.
Por outro lado, de acordo com Isabella, a dívida pública está caindo muito – e vai continuar diminuindo nos próximos anos – e a taxa de juros deve se manter entre 3,25 e 3,5%, deixando os negócios no país muito interessantes.
Em dezembro, a Fitch Ratings resolveu elevar o rating de crédito soberano em moeda estrangeira da Colômbia para BBB com perspectiva estável, ante BBB-, por conta exatamente da melhora da dinâmica de dívidas e políticas de credibilidade. O rating agora está em alinha com o da Standard & Poor’s. Já o rating do Brasil, foi rebaixado pela S&P para BBB- em março deste ano.
Brasil
As previsões para a Colômbia são infinitamente mais otimistas que as brasileiras. Uma eventual reeleição da presidente Dilma Rousseff neste ano, com a continuidade da atual política econômica, não deve alimentar uma grande expectativa em relação à correção de rumos no Brasil. Segundo Marcos Elias, sócio-diretor da Gradual Investimentos, se a Dilma for reeleita, haverá mais quatro anos de heterodoxia econômica, com riscos de o Brasil continuar a caminhar para o lado da Venezuela ou da Argentina. “O mercado vai ficar ruim e de lado por muito tempo”, opinou.
Para Elias, o Paraguai, o Chile, o Peru, a Colômbia e o México têm ido para um lado muito bom, de abertura e crescimento. “A Colômbia está passando por uma época muito boa, igual à que passamos com Fernando Henrique Cardoso. Você vai para a Colômbia hoje e fica encantado. (…) Já o Paraguai apresentou o terceiro maior crescimento do mundo em 2013, de 14,1%.” Para Paulo Bilyk, chefe de investimentos da Rio Bravo, o Brasil está mesmo olhando para a direção errada. “Se o Brasil fosse para a direção da Colômbia e do Chile, seria muito melhor para o país em termos de crescimento de longo prazo, de formação de poupança, de qualidade de vida e de sustentabilidade dos programas sociais.”
Essa matéria foi publicada na edição 48 da revista InfoMoney, referente ao bimestre janeiro/fevereiro de 2014. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.
*O autor da matéria, Arthur Ordones, viajou para Bogotá, na Colômbia, a convite da Proexport