SÃO PAULO – O economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, reconhece que o banco esteve pessimista com a economia brasileira por muitos anos, mas destacou que, após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o cenário mudou. “O Brasil pode voltar a crescer já no primeiro trimestre deste ano”, afirmou, citando dados de produção industrial e vendas de automóveis referentes a fevereiro.
A recuperação da economia e o controle da inflação aliado à redução dos juros, no entanto, não serão suficientes para o país reconquistar o grau de investimento no curto prazo. Diferentemente do que projetou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que o Brasil voltaria ao “investment grade” já em 2017, Carvalho calcula um período maior. “O grau de investimento é assunto para próximo governo, a partir de 2019. Antes disso, podemos ter melhora na perspectiva do rating apenas”, disse.
3 motivos para otimismo
Em entrevista coletiva realizada na manhã desta terça-feira, o especialista citou os três principais fatores que fundamentam a alteração na avaliação sobre o Brasil. “Primeiro, o governo tem um bom diagnóstico do problema e sabe que a solução é colocar um freio nos gastos, com o teto e a reforma da Previdência”, afirmou.
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O segundo ponto elencado pelo especialista é a equipe econômica do governo e as indicações em postos-chave como o BNDES e a Petrobras. “O time é muito”, resume. Por fim, Carvalho destaca a “boa articulação” do governo federal com o Congresso. “É impressionante como o governo tem conseguido aprovar de forma acelerada e com pouca alteração os projetos apresentados”, disse.
Cenário positivo
Carvalho destaca que o cenário é positivo com a economia em trajetória de recuperação, a inflação “derretendo” e os juros em queda acompanhando o processo desinflacionário. Com base nessas perspectivas, o BNP Paribas projeta que o PIB (Produto Interno Bruto) deve avançar 1% em 2017, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) encerrando o ano em 4,0% e a Selic chegando em dezembro em 8%, com o Copom acelerando o ritmo de cortes para 100 pontos-base já na reunião de abril.
Importância das reformas
O cenário base do economista contempla o avanço das reformas estruturais no Congresso. Se as mudanças nas regras da Previdência não forem aprovadas, as perspectivas para a economia brasileira pioram de maneira significativa. “Se a reforma bater no muro e não for pra frente, a percepção sobre o Brasil vai piorar, a taxa de câmbio tende a desvalorizar e se sobe o dólar, a inflação avança, o BC não pode cortar os juros de forma agressiva e isso dificultaria a trajetória de recuperação”, afirmou.
Carvalho destacou que a aprovação da PEC do Teto dos Gastos foi uma sinalização importante, mas que esta é uma condição “necessária, mas não suficiente” para as as perspectivas melhorarem. “O problema é a Previdência, que já responde por cerca de metade do total de gastos do governo federal”, afirmou.
Na avaliação do economista, a proposta apresentada pelo governo “faz sentido” e tenta aproximar o Brasil do padrão internacional, introduzindo uma idade mínima para a concessão de benefícios aos aposentados. “Nós projetamos a reforma avançando e sendo aprovada no Senado no terceiro trimestre deste ano”, estimou.
Meta de inflação
Com o cenário traçado de aprovação das reformas estruturais, queda da inflação de dos juros e retomada do crescimento, Carvalho considera que o CMN (Conselho Monetário Nacinoal) tem condições de reduzir a meta de inflação de 2019 na reunião de junho. “Existe, sim, um alinhamento astral para o Brasil poder ter a ambição de uma meta de inflação menor nos próximos anos”, afirmou, defendendo a redução em 0,5 ponto porcentual para 4,0% ao ano.
Segundo Carvalho, “nossa meta é alta e a banda é larga”. “A maioria dos países pares na América Latina tem meta de 3,0% com banda de 1 ponto porcentual”, comparou ao ser questionado por jornalistas sobre o tema. Atualmente, a meta de inflação brasileira é de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo.
Cenário externo
O economista-chefe do BNP Paribas considera que o cenário externo será benigno para o Brasil nos próximos ano,s com a economia global apresentando expansão mais acelerada tanto em países avançados como entre os emergentes. “Vemos uma aceleração sincronizada e global”, disse. “Os juros baixinhos por um tempão lá fora têm feito a economia pegar no tranco”, explicou.
Quanto aos Estados Unidos, Carvalho reconhece que a incerteza ainda é grande a respeito dos rumos da economia sob o governo Trump, mas destacou que parece claro que o “forte desejo de expansão fiscal”, com mais gastos em infraestrutura, o que tende a acelerar a economia no curto prazo e gerar uma inflação mais elevada.
Segundo o especialista, este contexto “pavimenta a rodovia” para que o Fed suba os juros ao longo do ano, começando já em março. O BNP Paribas projeta que o Fed subirá os juros três vezes em 2017 e quatro vezes em 2018.