(Bloomberg) — Apesar da ducha fria da piora das previsões para o crescimento, o mercado está longe de ver apenas um vale de lágrimas na economia em 2017. A queda da inflação e consequentes cortes mais acelerados dos juros devem ser os principais fatores a diferenciar este ano do anterior. Mesmo o PIB, caso confirme as estimativas de expansão perto de zero, ainda estará trazendo algum alento, depois de dois anos de recessão profunda.
A confirmação do cenário traçado pelo mercado dependerá de o país superar testes importantes. No plano político, o governo Temer terá de sobreviver aos riscos representados pela Lava Jato, preservando a força no Congresso para aprovar as reformas. No exterior, o governo de Donald Trump nos EUA terá de se revelar mais moderado do que sinalizado durante a campanha.
A seguir, sete possíveis pontos de melhora no cenário econômico para este ano:
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1) Juros menores – Com a inflação convergindo para a meta, o mercado precifica cortes da Selic entre 0,50 pp e 0,75 pp para cada uma das próximas quatro reuniões do Copom. Para a reunião da próxima semana, a aposta majoritária é em corte de meio ponto. Para o ano, o mercado projeta redução de 3,50 ponto percentual, o que levaria a taxa Selic para 10,25%. Alguns economistas, contudo, preveem taxa Selic de um dígito ainda no final deste ano.
2) Inflação na meta – A desaceleração da alta dos preços deve se acentuar, com o IPCA recuando de 6,38% em 2016 para 4,9% este ano, segundo os economistas. O BC projeta inflação entre 4,4% no cenário de referência e 4,7% no cenário de mercado. Além de abrir espaço ao corte de juros, a inflação perto da meta significa que o poder aquisitivo do consumidor sofrerá menor erosão pela alta dos preços do que nos anos anteriores. O IPCA foi de 6,41% em 2014 e 10,67% em 2015. Foram três anos com inflação perto ou acima do teto da meta, de 6,5%, o que amplificou o desconforto da população com a economia em recessão e o desemprego acima de 11%.
3) PIB estanca queda – A previsão para o crescimento do PIB neste ano vem piorando desde setembro, anulando boa parte do otimismo gerado pelo impeachment de Dilma. Ainda assim, há sinais de estabilização das previsões em torno de uma expansão de 0,5%. Isso significa que a economia encontraria um piso após dois anos de contração superior a 3%. A recessão durou mais do que o mercado esperava, mas poderia terminar em meados de 2017, preparando o terreno para a volta do crescimento em 2018.
4) Câmbio mais estável – O dólar disparou 6% em novembro com o susto provocado pela eleição de Donald Trump nos EUA. A maior parte desta alta, contudo, foi devolvida em dezembro, quando o dólar caiu 3,9%, com os investidores apostando que o novo presidente americano possa não ser tão radical quanto pareceu na campanha em termos de práticas protecionistas e na expansão fiscal, duas de suas bandeiras mais controvertidas. Outro motivo do alívio recente foi o fato de o governo Temer, a despeito das turbulências da Lava Jato, ter conseguido avançar com as reformas. Estes dois fatores ainda serão testados no curto prazo, com a posse de Trump e o fim do recesso em Brasília. A manutenção de um câmbio estável poderia ajudar na recuperação da economia este ano ao reforçar o controle da inflação, abrindo espaço para o BC cortar mais os juros. Além disso, traria alívio ao balanço de empresas endividadas em moeda estrangeira.
5) Contas externas equilibradas – A balança comercial fechou 2016 com um superávit comercial de US$ 47 bilhões. Grande parte deste saldo, contudo, não pode ser comemorado, pois foi causado por uma queda intensa das importações, devido à recessão. Para este ano, o governo espera um superávit um pouco melhor, mas com uma composição mais saudável, com aumento tanto das exportações quanto das importações. Mesmo em 2016, contudo, o saldo comercial ajudou reduzir drasticamente o déficit em conta corrente, que atingiu recorde de US$ 104 bi em 2014 e ficou em US$ 20 bilhões em doze meses em novembro. O maior equilíbrio nas contas externas, segundo analistas, é um dos fatores por trás da maior estabilidade demonstrada pelo câmbio nos últimos meses.
6) Reformas – A manutenção do otimismo do mercado brasileiro está condicionada sobretudo à aprovação das reformas. A esperança dos investidores aumentou esta semana após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, prever que a reforma da Previdência estará completamente aprovada no Congresso até o fim deste semestre. Se isto se confirmar, será uma aprovação mais rápida do que o esperado. Muitos analistas do mercado vinham considerando que já seria positivo aprovar a reforma em meados do segundo semestre. Seria fundamental aprovar a mudança ainda este ano, pois 2018 será ano de eleições, impróprio para a discussão de temas impopulares como a idade mínima de aposentadoria.
7) Commodities em alta – Apesar do avanço da agenda das reformas e do alívio, ainda provisório, com Trump nos EUA, um outro fator ajuda a explicar o bom momento do mercado brasileiro. As commodities, que caíram agudamente entre 2011 e 2015, voltaram a subir no ano passado. Foi um ganho moderado, de 11%, que repôs apenas uma pequena parte das perdas anteriores, mas suficiente para trazer alívio a grandes empresas brasileiras, como a Vale e a Petrobras. Para que este bom desempenho das commodities se mantenha, será necessário que Trump não gere sobressaltos nos EUA e, sobretudo, que a China, maior parceiro comercial do Brasil, consiga evitar uma desaceleração mais abrupta de seu crescimento.