SÃO PAULO – O economista-chefe para a América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, disse nesta terça-feira (29) que espera uma recessão de 3% do PIB (Produto Interno Bruto) este ano e de 2% no ano que vem no Brasil. Ele ainda disse que acredita que os Estados Unidos elevarão as taxas de juros em dezembro, já que a economia do país vem mostrando força. Carvalho afirmou que a projeção do BNP é que o Federal Reserve vá aumentando os juros até chegarem em um pico de 2,5% em 2017.
O economista disse ainda que o impacto disso no Brasil é uma valorização do dólar, que deve bater também no preço das commodities no mercado internacional. “Quando o dólar se fortalece, as commodities se enfraquecem”, explica. O quadro fica ainda pior com a desaceleração da economia chinesa, que não deve crescer mais do que 6,5% este ano. “As commodities devem continuar a cair mais neste contexto em que a China se desacelere”.
Especificamente sobre o câmbio, ele espera um dólar relativamente estável este ano, em torno de R$ 4,00, com uma alta para R$ 4,15 no ano que vem. “Mas isso é parte da solução”, avalia ele, que acredita que seja importante um câmbio desvalorizado para ajudar as exportações e conter as importações.
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Sobre os recentes acenos do Banco Central para uma maior intervenção no câmbio, ele disse que a ideia é tentar suavizar o processo e não definir um teto para o valor do dólar. “Reserva internacional é um fator que diferencia o Brasil de hoje com o de lá atrás. A gente não tem uma crise no Balanço de Pagamentos hoje”. Para ele, as reservas são o instrumento mais potente para conter a depreciação do real e devem ser usadas, mas se não for atacada a causa primeira da valorização do dólar, que é o problema fiscal, não haverá solução.
O ajuste fiscal, para Carvalho, é a questão mais importante do momento, de modo que ele qualificou como “barbeiragem” a entrega do Orçamento de 2016 com déficit de R$ 30,5 bilhões. Dentro deste cenário, as medidas do “pacotão” anunciadas recentemente vão na direção correta, na sua avaliação, mas elas ainda enfrentam uma forte resistência no Congresso e dependem de um cenário macroeconômico que não prejudique demais a arrecadação.
O economista disse que, com isso tudo isso em mente, o Brasil terá um choque triplo, no qual o primeiro impacto vem da mudança no cenário macroeconômico global. O segundo é que, de acordo com ele, hoje pagamos os erros de política econômica dos últimos anos. Já o terceiro impacto, para ele um “evento não econômico”, é a Operação Lava Jato, que afeta toda a cadeia de produção de empresas do setor de óleo e gás e empreiteiras, além de enfraquecer ainda mais a relação política entre o governo e o Congresso.
Apesar disso, Carvalho disse que a inflação cai para 6,5% no ano que vem. Já com relação aos juros, ele espera que o Banco Central, não tenha planos para subir os juros por enquanto. “A probabilidade nos parece baixa”, disse, explicando que o cenário de recessão deve fazer, inclusive com que o BC corte os juros em algum momento no futuro quando o câmbio permitir. Para ele, seria necessário uma piora muito maior no quadro de inflação para haver um nove choque nos juros.
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