(Bloomberg) — O desempenho positivo dos ativos brasileiros não reflete apenas o otimismo do mercado com a estabilização da economia. Esses ganhos também mostram que o Brasil, agora a caminho de reformas em 2016, passou a ser visto como um país comparativamente menos vulnerável diante do aumento do risco político em outros lugares.
“Ninguém está soltando fogos, mas há uma aposta nos ativos brasileiros. Provavelmente, o Brasil não está mais entre os cinco mais frágeis”, diz o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, sócio da consultoria Tendências. Embora a tensão política permaneça mesmo após a mudança de governo, com a Lava Jato e as eleições de 2018 gerando incertezas, o investidor reconhece que outros países também enfrentam problemas iguais ou maiores. O mercado global é como um “concurso de beleza”, observa Loyola, onde o investidor procura comparar o potencial e o risco de cada país.
O fato de o risco político em outros países ter aumentado desde 2016 faz com que o investidor veja a situação nacional sob uma perspectiva mais ponderada. No México, lembra Loyola, o impacto das políticas do presidente americano Donald Trump, que ameaça rever o Nafta e constrange empresas que querem investir no país, crescem as chances de vitória do esquerdista Lopez Obrador. A Turquia, outro país que compete com o Brasil pela preferência dos investidores em mercados emergentes, segue instável desde a tentativa de golpe no ano passado.
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O cenário atual traz ainda como novidade o fato de as incertezas em países desenvolvidos também serem substanciais. Após as surpresas eleitorais com Trump nos EUA e o Brexit no Reino Unido, a França se depara com a candidatura a presidente da nacionalista Marine Le Pen, que se opõe ao euro. Na Holanda, outro político com discurso anti-imigração, Geert Wilders, ameaça desbancar lideranças tradicionais.
“Relativamente aos seus pares, o Brasil se mostra menos vulnerável”, diz Daniel Cunha, estrategista da XP Securities em Nova York.
A calmaria do recesso ficou para trás, mas nenhum evento recente envolvendo o governo e sua base foi capaz de reduzir a força política que Temer tem mostrado no Congresso. Ao mesmo tempo, as reformas e a queda da inflação abrem espaço para o corte agressivo dos juros, o que pode estimular a volta do crescimento, avalia o estrategista do XP. Diante do otimismo dos investidores, ele prevê que o dólar cairá a R$ 3,00 em algum momento do ano.
Gustavo Loyola observa que a inflação menor favorece o salário real e a queda dos juros ajuda empresas e consumidores a equacionarem os seus níveis de endividamento, o que deve favorecer uma retomada gradual atividade. “Não vai ser nenhum espetáculo de crescimento, mas estou um pouco mais otimista”, diz o ex-presidente do BC.