Devem passar a valer a partir de quarta-feira (12) as novas tarifas de 25% dos Estados Unidos sobre todas as importações de aço e o alumínio feitas pelo país, medida que vai prejudicar o Brasil entre outros parceiros. Neste final de semana, após alguns recuos de Donald Trump na imposição de taxas sobre México e Canadá, o secretário de Comércio Howard Lutnick respondeu à NBC News com um lacônico “sim”, quando foi pedida a confirmação da data.
Embora o governo brasileiro tenha tentado reduzir a temperatura do debate sobre o protecionismo norte-americano, as novas tarifas devem trazer forte impacto para as empresas brasileiras dos dois setores. E ainda paira a insegurança de novas taxas, uma vez que a administração Trump promete taxações retaliatórias – o etanol foi especialmente citado num comunicado da Casa Branca.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, confirmou ter participado de uma videoconferência com Lutnick na semana passada e disse que o Brasil está buscando um entendimento ganha-ganha com os EUA nas negociações, mas nenhum adiamento foi anunciado.
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O InfoMoney listou alguns detalhes sobre as justificativas apresentadas pelos EUA para impor novas tarifas, as repercussões e os possíveis efeitos das medidas. Veja abaixo.
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Quais os motivos das tarifas dos EUA?
Como já havia acontecido na primeira gestão de Donald Trump (2017-2020), o doutrina “America First” incorporou as muitas queixas do setor produtivo americano sobre como políticas comerciais subsidiadas em vários países prejudicaram a manufatura e, por consequência, os empregos nos EUA. Desta vez, há uma busca por reciprocidade tarifária, uma vez que há mais barreiras para produtos americanos no exterior do que as existentes na entrada de produtos importados para lá. Também faz parte dessa estratégia uma tentativa de reduzir o poder exercido pela China no comércio global. Em termos de geopolítica, Trump também quer enfraquecer os BRICs, especialmente por conta da proposta de uma moeda que substituiria do dólar nas relações comerciais entre os integrantes do bloco.
O Brasil cobra tarifas excessivas dos EUA?
A resposta para essa questão é complexa. Conforme mostrou matéria do InfoMoney, a média tarifária de importações no Brasil é da ordem de 12,4%, ante um valor de 4% entre os países desenvolvidos que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A dos EUA seria ainda mais baixa, em torno de 2,5%. Mas essa tarifa brasileira de importação é a média consolidada na OMC. Na prática, conforme dados da CNI e da Amcham Brasil, a tarifa real aplicada pelo Brasil, por conta de regimes aduaneiros especiais como drawback, ex-tarifário e Recof, seria de apenas 2,7%. Além disso, a Câmara de Comércio lembra que 48% das exportações dos EUA para o Brasil entram sem tarifas, enquanto outros 15% têm tarifas inferiores a 2% — Geraldo Alckmin disse nesta semana que a isenção alcança 70%. Só que existem casos específicos que fogem a essa regra: quando anunciou seu futuro “Plano Justo e Recíproco” de tarifas, Trump destacou que a tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%, enquanto o Brasil cobra tarifa de 18%.
Como é o comércio entre Brasil e EUA
Embora a China já seja a principal parceira comercial do Brasil, os EUA só perderam essa posição em 2009, segundo dados do Ipea. Mas os norte-americanos ainda lideram nas compras de produtos brasileiros de maior valor agregado. Segundo estudo da Amcham divulgado em 2024 — ano do 200º aniversário das relações diplomáticas entre os países – o Brasil tem sido o principal destino de bens industrializados nos últimos nove anos consecutivos, com US$ 29,9 bilhões em 2023, à frente de todo o bloco europeu (US$ 23,5 bilhões) e do Mercosul (US$ 19,4 bilhões). Além disso, os Estados Unidos são o principal destino para produtos brasileiros de alta tecnologia (como aeronaves, medicamentos e algumas máquinas), representando, em média, 47,7% do total vendido pelo Brasil nesse segmento entre 2001 e 2023. Entre 2014 e 2023, os EUA acumularam um superávit comercial de US$ 263,1 bilhões em bens e serviços com o Brasil. Em 2024, o superávit comercial de bens dos EUA foi de US$ 7,3 bilhões. Além disso, as empresas que vendem para os EUA pagam salários maiores e apresentam padrões internacionais de equidade.
Quanto o Brasil vende de aço para os EUA?
Segundo dados do Instituto Aço Brasil, nos últimos cinco anos, os Estados Unidos tiveram superávit comercial médio de US$ 6 bilhões com o país. Considerando, especificamente, o comércio dos principais itens da cadeia do aço – carvão, aço e máquinas e equipamentos – EUA e Brasil detêm uma corrente de comércio de US$ 7,6 bilhões, sendo os Estados Unidos superavitários em US$ 3 bilhões. Em 2028, Trump também havia determinado tarifas de 2%, mas os governos negociaram cotas de exportação para o mercado norte-americano de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados/placas e 687 mil toneladas de laminados. O Aço Brasil destacou em fevereiro que os EUA importaram, em 2024, 5,6 milhões de toneladas de placas por não dispor de oferta suficiente para a demanda do produto em seu mercado interno, das quais 3,4 milhões de toneladas vieram do Brasil.
E o alumínio?
A dependência dos EUA do alumínio brasileiro é menor que no caso do aço, uma vez que o Canadá é o maior fornecedor. Segundo dados da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), embora essa participação nas importações americanas de produtos de alumínio seja relativamente pequena, menos de 1%, os EUA são um parceiro comercial importante e correspondem a 16,8% das exportações brasileiras do metal, o que movimentou US$ 267 milhões do total de US$ 1,5 bilhão exportado pelo setor em 2024. Em termos de volume, os EUA Unidos foram o destino de 13,5% do total (72,4 mil toneladas) das exportações brasileiras de produtos de alumínio. Desse total, as chapas e folhas de alumínio corresponderam a 76% do volume.
Quais os impactos das tarifas?
A Abal destacou em nota oficial que, além dos impactos na balança comercial, preocupam os efeitos indiretos associados ao aumento da exposição do Brasil aos desvios de comércio e à concorrência desleal. “Produtos de outras origens que perderem acesso ao mercado americano buscarão novos destinos, incluindo o Brasil, podendo gerar uma saturação do mercado interno de produtos a preços desleais”, disse a associação. A imposição das novas tarifas também pode resultar em uma tendência de elevação dos preços regionais, especialmente nos locais que dependem de importações, o que pode provocar um realinhamento nas cadeias globais de suprimento e modificar fluxos comerciais tradicionais. Já o Instituo Aço Brasil destacou que o mercado brasileiro também “vem sendo assolado pelo aumento expressivo de importações de países que praticam concorrência predatória, especialmente a China, razão pela entidade solicitou ao governo brasileiro a implementação de medida de defesa comercial”, ampliando a barreira atual de regime de cota-tarifa.
E para os EUA?
O esperado impacto positivo para os produtores de aço e alumínio dos EUA provavelmente será contrabalançado por preços mais altos tanto para as indústrias de vários setores — como automotiva, processamento de alimentos, construção e até defesa — como para os consumidores americanos. Além disso, com a diminuição da concorrência, os produtores domésticos podem encontrar menos motivação para manter os preços baixos. Para o Deutsche Bank, essa tarifas, somadas às tarifas recíprocas, podem aumentar o índice de preços de gastos de consumo pessoal – o PCE, uma medida importante da inflação – em mais 0,4 ponto percentual.