Os investimentos no Tesouro Direto bateram recorde em agosto, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (21) pelo Tesouro Nacional. Foram R$ 8,01 bilhões aportados nos títulos públicos, o maior volume da série histórica. Os dados ainda mostram os papéis atrelados à inflação se consolidando como favoritos dos brasileiros, absorvendo 50,6% da demanda, enquanto o Tesouro Selic, líder até fevereiro, foi responsável por 41,7% das vendas.
As incertezas nos cenários global e local fazem o investidor procurar por opções mais seguras, enquanto “o nível das taxas mostra uma janela muito interessante para investimentos, já que tivemos poucos momentos de juros tão altos nos últimos anos”, diz Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital.
Tesouro IPCA+ é a melhor opção?
A preferência pelos títulos indexados à inflação também pode ser explicada pela aversão ao risco. Nicolas Gass, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, lembra que a política fiscal brasileira é vista com desconfiança pelos investidores. Logo, eles buscam proteção contra a alta de preços já que a política expansionista injeta mais dinheiro na economia, faz os consumidores gastarem mais e os preços subirem.
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Furtado defende que “as NTN-Bs são ótimas opções para garantir ganhos reais extraordinários, principalmente em um período de desancoragem das expectativas de inflação, que hoje estão fugindo do controle e obrigando o Banco Central a agir elevando os juros”.
Mas o Tesouro Selic é uma opção melhor, segundo alguns analistas. O principal argumento para justificar a preferência é volatilidade menor. Fabrício SIlvestre, analista da Levante, diz que “os números fiscais podem apresentar desafios grandes para o governo nos próximos anos, o que pode trazer volatilidade para o mercado e nos leva a preferir uma alocação com menor sensibilidade a flutuações nas expectativas de mercado”.
Para Gianluca Di Mattina, especialista em investimentos da Hike Capital, os títulos atrelados à inflação são “uma péssima alternativa, mesmo com juro real de 7%”, já que “o retorno não compensa o excesso de volatilidade”.
No momento, o Tesouro IPCA+ “está rentabilizando menos do que as taxas de juros”, observa Gass. O último IPCA, divulgado em setembro, mostra inflação de 3,31% no acumulado do ano, mas a justificativa para investir nas NTN-Bs está na expectativa para os próximos anos, com projeções pessimistas para a alta nos preços.
Investimentos mais curtos são unanimidade
Mesmo os analistas que preferem o Tesouro Selic indicam uma alocação mais curta nos títulos de inflação por enxergarem um cenário difícil de ser previsto daqui para frente. “Nossa preferência está em papéis com vencimento entre dois e cinco anos, entendendo que os títulos com menor duração ganham atratividade em um ambiente de incerteza”, diz Silvestre.
Nesse cenário, “é mais prudente fazer investimentos mais curtos buscando mais assertividade”, diz Furtado. “Pela falta de clareza do futuro, os investidores se apegam ao curto prazo, que parece mais claro e seguro, fugindo do risco”, completa. Ao fazer alocações mais curtas, o investidor pode reduzir o risco de travar a rentabilidade em um patamar inferior ao que será oferecido em um ano, por exemplo.
Nesse sentido, o Tesouro Selic também sai vencedor, já que sofre variação quase desprezível da marcação a mercado, com taxas de 0,05% além da taxa básica de juros. Não à toa, os pós-fixados são usados como reserva de emergência ou de oportunidade – parcela do portfólio alocada em títulos de alta liquidez enquanto o investidor espera melhor das condições de mercado.